Sylvia Colombo https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br Latinidades Tue, 30 Nov 2021 12:31:53 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Colômbia lidera luta pelo direito à eutanásia na região https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/2021/10/06/colombia-lidera-luta-pelo-direito-a-eutanasia-na-regiao/ https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/2021/10/06/colombia-lidera-luta-pelo-direito-a-eutanasia-na-regiao/#respond Wed, 06 Oct 2021 08:55:31 +0000 https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/Martaefederico-320x213.png https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/?p=3920 No próximo domingo, Martha Sepúlveda, 51, despertará, como sempre, como quem vai à missa. Só que, desta vez, não se dirigirá à Igreja. Essa colombiana de 52 anos, católica, enfrentou os padres de Medellín, sua cidade, e a mãe que, até então, vinham tentando convencê-la a desistir de sua decisão de encerrar a própria vida, uma vez que isso iria contra os “ensinamentos de Deus”.

Às 7h do próximo dia 10, acompanhada por seu filho, Federico, Sepúlveda se submeterá a uma eutanásia. A prática é legalizada na Colômbia desde 2015, mas até então era limitada apenas para pacientes terminais em estado avançado de uma doença. Em julho deste ano, a Corte Suprema do país liberou o acesso a esse direito também a doentes não terminais. Sepúlveda tem esclerose lateral amiotrófica, uma doença degenerativa que leva gradativamente à paralisia de todos os músculos. Embora esteja bem neste momento, rindo e falando, Sepúlveda já se angustia pelas dificuldades para locomover-se e afirma querer saltar a parte mais agônica da doença, que a limitará e a levará à morte.

“Deus é meu pai, portanto não quer que eu sofra. Assim como não quero que meu filho sofra. Para mim, o argumento religioso não faz sentido. Morrerei sendo católica, mas não aceito essa ideia de que Deus nos proíba de querer colocar um fim à nossa própria vida”,  afirmou Sepúlveda em entrevista à rede Caracol.

Desde a regulamentação da lei, em 2015, 157 colombianos pediram acesso à eutanásia e abreviaram seu sofrimento. Antes disso, uma pessoa que ajudasse alguém a morrer no país poderia ir presa por 16 a 54 meses.

Na Colômbia, segundo uma pesquisa do Invamer, 72% das pessoas são a favor da legislação.

O caso colombiano é uma referência sobre como o debate sobre a eutanásia ainda engatinha na América Latina. A Colômbia é o único país da região em que o recurso está garantido por lei, e que, com essa nova determinação da Corte, inclusive se amplia. Mas, nos demais países, principalmente por conta da presença intensa da religião católica, o tema ainda é um tabu.

Há outros dois casos que estão forçando legisladores e a Justiça de outros países a se debruçarem sobre o tema.

No Chile, Cecilia Heyder, 52, que padece de câncer, lupus e septicemia, apresentou um pedido à Corte Suprema para ter acesso a uma eutanásia, embora esta seja ilegal no país. Embora ela ainda espere a autorização para o procedimento, seu caso moveu o Congresso a debater o assunto. Em abril deste ano, foi aprovado um projeto de lei que dá acesso à eutanásia a pacientes em estado terminal ou que sofram de uma doença incurável. Agora, espera-se uma decisão do Senado nos próximos meses.

No Peru, outro país em que a Igreja Católica ainda tem muito poder junto ao Estado, um juiz determinou, de modo inédito, em março último, que a eutanásia fosse permitida no caso de Ana Estrada, 44. A psicóloga tem polimiositis, doença inflamatória sem cura que causa debilidade muscular progressiva. A decisão da Justiça foi a de “respeitar” a vontade da mulher de acabar com sua vida. Estrada afirma que, agora, espera que seu caso abra um precedente para uma legislação que contemple a situação de todos os peruanos que gostariam de abreviar seu sofrimento.

Atualmente, quem ajude uma pessoa a morrer no Peru pode pegar uma pena de até 3 anos. O atual presidente, Pedro Castillo, um esquerdista conservador, já se posicionou fortemente contra a eutanásia, o que pode fazer com que o caso de Estrada seja um acontecimento isolado.

Em vários outros países da região, como o México e a Argentina, aceita-se, de modo geral, a chamada eutanásia passiva, que passa por uma redução ou retirada de tratamento. A eutanásia ativa ainda é proibida em todos os países, como o Brasil. A única exceção da região é a Colômbia.

Sorridente e falante, Martha Sepúlveda se despede do mundo deixando um convite à reflexão. Não seria o momento de enfrentar o tabu da morte e entregar aos indivíduos a decisão de quando e como queiram partir?

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A barulhenta morte de Abimael Guzmán https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/2021/09/16/a-barulhenta-morte-de-abimael-guzman/ https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/2021/09/16/a-barulhenta-morte-de-abimael-guzman/#respond Thu, 16 Sep 2021 22:39:24 +0000 https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/Cartel-propagandistico-Sendero-Luminoso-Google_CYMIMA20150602_0009_16-320x213.jpg https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/?p=3905 Morto no último sábado, aos 86, Abimael Guzmán foi um monstro. Apesar de ser responsável por lançar uma guerra que matou mais de 70 mil peruanos, há muita gente que não o conhece. Talvez a razão seja o fato de que 80% de suas vítimas terem sido camponeses pobres, indígenas do interior do Peru, que sequer falavam espanhol e tinham no quéchua sua língua nativa. Guzmán não matou famosos e seus atentados não atingiram cartões-postais como o World Trade Center, em Nova York. Por outro lado, arrasaram vilarejos e cidades inteiras no interior do Peru.

Foi tamanho o trauma que causou ao país, que apesar de estar detrás das grades havia trinta anos, nenhum governo peruano tinha pensado no que se deveria fazer com seus restos quando morresse. Demasiada responsabilidade?  Ou manifestar-se seria mostrar  comprometimento com a causa do Sendero Luminoso ou, pior, revelaria medo a um enfrentamento com uma força que ainda mobiliza paixões e poderes locais no coração dos Andes?

A preocupação de não construir uma sepultura, que poderia ser um lugar de peregrinação no futuro, é legítima. A cidade de Medellín, na Colômbia, ainda tem de lutar muito para que se deixem de vender passeios turísticos que passem por lugares em que viveu Pablo Escobar, assim como por seu túmulo. Por outro lado, e o direito da família? Alguém avisou a mulher, também terrorista, e os familiares que um monstro como Guzmán não pode ter um enterro e seria melhor espalhar seus restos no mar como os Osama Bin Laden? E se houver represálias e novos ataques?

No caso de Guzmán, a questão sobre o que fazer com seus restos é ainda mais relevante do que nos casos do narcotraficante colombiano ou do terrorista saudita. Afinal, nenhum dos dois construiu uma organização que tinha no centro o culto à personalidade na mesma intensidade que o Sendero Luminoso. Algo que Guzmán conseguiu fazer ao fanatizar milhares de estudantes e militantes do interior do Peru.

Embora tenha também nascido na carona das paixões que a Revolução Cubana (1959) causaram na América Latina, a guerrilha do Sendero Luminoso não tinha um planejamento de ataque a alvos políticos claros, como as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), nem era um movimento fundamentalmente de jovens de classe média, como os montoneros argentinos ou os tupamaros uruguaios.

Abimael Guzmán, esse ex-professor de filosofia com capacidade de encantar e fascinar seus alunos e seguidores, convenceu-os de que apenas a criação de um caos absoluto, uma matança que não poupasse ninguém, serviria para a estratégia de confundir as autoridades e chegar a um propósito maior: mostrar ao mundo que os oprimidos no Peru eram, de fato, os protagonistas de uma revolução que havia sido traída, em sua visão, pelos soviéticos e pelos comunistas, e que agora ganhava uma nova chance na América Latina, sob seu comando. Em uma de suas demonstrações de força e de provocação, Guzmán mandou pendurar, em postos de iluminação em Lima, cachorros mortos com a seguinte inscrição no peito: “Deng Xiaoping é um traidor”.

Guzmán dizia que, para que o Sendero saísse vitorioso, seria necessário, no mínimo, 1 milhão de mortes. Ou seja, um banho de sangue pelas encostas da Cordilheira dos Andes.

As vítimas de Guzmán morreram a golpes de machado, fuziladas ou  incendiadas. Diferentemente das Farc, por exemplo, os senderistas se misturavam com as comunidades do campo, mas não as assistiam em nada. Não buscavam seu bem-estar nem as protegiam. Na verdade, as usavam como escudo e como carne de canhão. Afinal, o Exército peruano, assustado e cobrado por resultados, preferia arrasar, ele também, povoados inteiros a ter que selecionar quem era terrorista e quem não era. Em massacres conhecidos, como os de Acomarca e Lucanamarca, os soldados apenas dividiram a população entre homens e mulheres para estuprarem as mulheres antes de matar a todos, incluindo crianças. Guzmán jogou habilmente com os preconceitos dos peruanos das cidades com relação aos do campo. De certo modo, estimulou a matança realizada pelo Exército, pois essa correspondia à sua estratégia de criar o caos.

Se sua prisão e o fim do Sendero Luminoso foram usados para a propaganda política de Alberto Fujimori, as ações de Guzmán não deveriam ficar restritas ao contexto peruano. Nos anos 90, a comunidade internacional deveria ter repudiado seus atos de modo ainda mais enfático. Quanto ao resto da região, seria importante uma reflexão sobre o contexto que tornou possível o surgimento do Sendero Luminoso. Porque, afinal, não parece que a vida dos camponeses pobres de origem indígena tenha melhorado nesses anos de crescimento econômico do país. E o atual governo, entre admitir que participou, de alguma forma, do conflito, e sua tentativa de não assustar os mercados, parece titubear diante do horror causado por Guzmán, sem resolver o que causou sua aparição.

 

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A difícil tentação de não mexer na Constituição https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/2021/09/01/eles-querem-mudar-as-leis/ https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/2021/09/01/eles-querem-mudar-as-leis/#respond Wed, 01 Sep 2021 14:27:19 +0000 https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/1629929101_478014_1629929213_noticia_normal-320x213.jpg https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/?p=3881 Enquanto o Chile prepara uma nova Constituição que é resultado de um processo democrático, outros países da região têm visto seus mandatários avançarem sobre as leis com propostas menos claras e com toques autoritários e populistas.

Um deles é El Salvador. Já faz tempo que o o direitista Nayib Bukele não se presta mais a piadas de que é um “líder millennial” e cool. O que o jovem mandatário tem feito é digno de um filhote de autocrata. Primeiro, avançou contra o legislativo, depois, sobre juízes do tribunal supremo e, agora, tratando de mudar a Carta do país, em vigor desde 1983.

Já há alguns meses, Bukele entregou a seu vice, Felix Ulloa, a liderança de um comitê que tem como objetivo redigir reformas à Constituição nacional. Pelo que se revelou até agora, elas não são totalmente negativas, uma vez que fazem concessões no que diz respeito a direitos individuais, como casamento igualitário e relaxamento na draconiana proibição total do aborto. Por trás disso, está a ideia de afastar a tão presente Igreja Católica local das decisões políticas. Também se prometem reparações a abusos em direitos humanos na repressão da guerra civil (1979-1992).

As boas notícias, porém, param por aí. Está nos planos estender o mandato do presidente de cinco para seis anos. Além disso, o tribunal eleitoral sairia do controle da Justiça e seria uma entidade independente, com membros nomeados pelo Executivo. Em ambas as medidas, se vê um amplo espaço para que Bukele aumente e centralize seus poderes.

A reforma constitucional também deve prever que a aprovação de leis no Congresso seja mais fácil. Em vez de uma maioria de dois terços, exigirá apenas a de 50% mais um voto. 

A ideia é apresentar essas reformas ao texto de 1983 ao Congresso no próximo dia 15 de setembro, dia do bicentenário da independência de El Salvador. No parlamento, o partido de Bukele (Nuevas Ideas) é hegemônico. Depois disso, elas teriam de ser votadas num referendo. Mas isso não será um obstáculo para Bukele, que continua sendo um líder da aprovação popular na América Latina.

Em pesquisa recente, da Gallup, 87% dos salvadorenhos afirmaram seu apoio ao presidente, enquanto sua gestão tem apenas 11% de rejeição.

No México, o presidente de esquerda Andrés Manuel López Obrador passa já da metade de seu mandato encrencando com a Justiça eleitoral de seu país. Após seu partido, o Morena (Movimento de Regeneração Nacional) ter encolhido das Legislativas e seu esdrúxulo plebiscito para julgar ex-presidentes ter tido uma participação pífia (7% do eleitorado), o mandatário decidiu partir para cima das autoridades eleitorais.

AMLO (como é conhecido) considera que o Instituto Nacional Eleitoral (INE) e o Tribunal Electoral do Poder Judicial da Federação (TEPJF) são responsáveis pela baixa participação nas últimas votações e, assim, os responsabiliza indiretamente por suas próprias derrotas. Os ataques incluem chamar o poder eleitoral de “Frankenstein” e de um instrumento a serviço dos partidos tradicionais.

A solução para isso, ele já vem trazendo ao debate: uma reforma eleitoral. López Obrador afirmou que esta faria uma “renovação total” desses órgãos, por meio da remoção de todos os seus funcionários. “Uma mudança total, eles não são democratas, não respeitam a vontade da população e não estão a altura das circunstâncias. Precisamos de uma troca de funcionários para estabelecer a autêntica democracia no país”, afirmou.

Espera-se que a proposta chegue ao Congresso nas próximas semanas. Não se sabe, ainda, como seria o mecanismo para realizar essa demissão coletiva, quando muitos são funcionários do Estado, e como seriam as novas contratações, caso fossem aprovadas. Mas, com tantas prioridades na pauta, como a pandemia do coronavírus, seu impacto na economia e a imigração ilegal, essa não parece ser a principal das questões do país.

Chama a atenção, ainda, que AMLO continue obcecado com o sistema eleitoral mexicano. Afinal, não é de hoje que ele ataca essa instituição.

Em 2006, AMLO não aceitou a derrota na corrida presidencial contra o então vencedor, Felipe Calderón (PAN), e resolveu fazer uma campanha contra o resultado. Chegou a comandar o bloqueio de vias e a acampar no Zócalo da Cidade do México em protesto. Em 2012, fez o mesmo quando vencido por Enrique Peña Nieto (PRI).

Outro que está de olho em reescrever as leis de seu país é o também esquerdista Pedro Castillo, no Peru. Embora venha agindo com cautela nestas primeiras semanas desde que assumiu (em 28 de julho), por conta das polêmicas com relação a seu gabinete, o mandatário deixou claro em sua campanha e em sua posse que sua ideia era trocar a Constituição do país, de 1993, por uma nova.

O problema começa com a própria lei. Segundo atual texto, não é possível formar uma Assembleia Constituinte ou chamar um referendo para tal sem que seja por meio do Congresso. Ou seja, o Executivo sozinho não pode propor tal mudança. “Não é possível que o povo esteja condenado a continuar prisioneiro da atual Constituição”, já esbravejou Castillo em um discurso. A força política do mandatário, o partido Perú Libre, apesar de compor a maior bancada da assembleia unicameral do país, não tem a maioria.

Enquanto busca acordos improváveis ante um Congresso que, por pouco, não rejeitou logo de cara seu primeiro time de ministros, o Perú Libre, partido governista comandado pelo polêmico Vladimir Cerrón busca uma alternativa para colocar o plano em marcha. A agrupação considera a atual Constituição “neoliberal” e que apenas serve aos grupos de interesse que comandam a economia do país. Para Castillo, é necessário incorporar a ideia de uma nação pluricultural. Isso na teoria. Na prática, a oposição considera que uma nova Carta pode ser usada para o mesmo fim de seus aliados e gurus, o venezuelano Hugo Chávez e o boliviano Evo Morales. Ambos de fato promoveram novas Constituições mais inclusivas e que se refletiram em melhorias sociais. Porém, por outro lado, significaram uma ampliação dos poderes desses mandatários e uma escalada autoritária.

É importante que as sociedades salvadorenha, mexicana e peruana busquem fiscalizar esses processos pelas vias democráticas e pacíficas.

 

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Pesadelos dos anos 1990 assombram eleições no Peru https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/2021/05/16/pesadelos-dos-anos-1990-assombram-eleicoes-no-peru/ https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/2021/05/16/pesadelos-dos-anos-1990-assombram-eleicoes-no-peru/#respond Sun, 16 May 2021 15:39:47 +0000 https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/05/autodefensa-800x526-320x213.jpg https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/?p=3798 De um lado, o pesadelo do fujimorismo, com seus abusos a direitos humanos, corrupção e autoritarismo político.

De outro, o pesadelo dos embates no campo na época do Sendero Luminoso (1980-1993), uma guerra interna que matou mais de 70 mil peruanos, e na qual estiveram enfrentados o Estado, as “rondas campesinas” (milícias civis) e os guerrilheiros de esquerda que seguiam o mítico líder Abimael Guzmán.

Os dois principais atores desse terrível período estão hoje detrás das grades, em prisões próximas à capital, Lima. Alberto Fujimori, 82, autocrata que governou o Peru entre 1990 e 2000, cumpre pena na penitenciária de Barbadillo, enquanto Guzmán, 86, está na prisão de Callao. Os dois octogenários parecem ser cartas fora do baralho na eleição presidencial que se resolve no segundo turno no país, no próximo dia 6 de junho.

Parecem, mas não são. As sementes do enfrentamento que plantaram durante sua vida seguem presentes no Peru atual.

O candidato esquerdista Pedro Castillo, líder nas pesquisas, afirma não ser um “senderista”, e sofre ataques de seus opositores por ter vínculos políticos com integrantes do Movadef _o braço democrático do Sendero Luminoso. Integrantes do Movadef, de fato, assessoram sua campanha. Alguns já passaram pela cadeia por vínculo com ações definidas como terroristas pela Justiça.

Não há, porém, evidências concretas de vínculo de Castillo com ações violentas do Sendero Luminoso. O candidato se diz identificado com os “ronderos”, ou seja, os integrantes das “rondas campesinas” que ajudaram as Forças Armadas a aniquilar a guerrilha esquerdista. Os “ronderos”, fortes na região de Cajamarca, Ayacucho e demais regiões onde o Sendero deixou sua marca, apoiam Castillo. Ali, os “ronderos” são vistos, de modo maniqueísta, como o “bem”, contra o “mal”, que seriam os integrantes do Sendero Luminoso. É certo que, sem a ajuda dessa milícia civil, o Estado peruano talvez nunca tivesse terminado o conflito com a guerrilha. Porém, o modo de atuar dos “ronderos”, sem vínculos com a legitimidade institucional de uma força de segurança, também foi responsável por abusos de direitos humanos, como massacres coletivas e execuções extra-judiciais.

Já a candidata da direita, Keiko Fujimori, tem repetido diversas vezes que não tomará medidas anti-democráticas como fez seu pai, que fechou o Congresso, organizou um esquadrão da morte (o grupo Colina) e associou-se a organizações como as “rondas campesinas”. Porém, da palavra à ação há diferenças. E há razões para ter atenção às marcas do fujimorismo clássico que Keiko, filha do autocrata, pode perpetuar.

A coordenação de seu plano econômico, por exemplo, está nas mãos de Jorge Baca Campodónico, que foi ministro de Fujimori. Se o Peru teve um desempenho de crescimento significativo a partir da gestão fujimorista, também é um dos países que pior redistribuiu os benefícios do “boom das commodities”, o que se reflete na alta cifra de pobreza atual, 39,9% da população, e na informalidade do mercado de trabalho, de 77%.

Keiko também diz que um governo seu não será corrupto como o do pai, marcado por escândalos como o dos “vladividios”, que mostravam o principal assessor de Fujimori, Vladimiro Montesinos (também preso atualmente), subornando dirigentes políticos. Mas, como acreditar em uma candidata cujas investigações de corrupção ainda estão em aberto? Keiko está fazendo campanha eleitoral com uma permissão especial da Justiça, porque não poderia, por sua atual situação processual, sequer deixar Lima. Teve de recusar, nas últimas semanas, o convite do Nobel Mario Vargas Llosa de ir a Quito conversar sobre o Peru atual num evento diante das câmeras, porque não pode, simplesmente, sair do país.

A candidata fujimorista comprometeu-se a respeitar os ritos da democracia. Porém, era a líder, até pouco tempo atrás, do Força Popular, partido que, com sua maioria no Congresso, causou a “vacância” (afastamento) de dois presidentes, movida por um espírito vingativo relacionado ao pedido de um indulto a seu pai (preso, entre outras coisas, por roubar o Estado).

Keiko ainda afirma que será respeitosa dos direitos humanos. Mas deu declarações escandalosas na semana passada com relação às mais de 200 mil esterilizações forçadas cometidas durante a gestão de seu pai, afirmando que eram parte de um projeto de “planejamento familiar”. As vítimas deste abuso estão há vários anos pedindo reparações à Justiça.

É possível que, tanto Castillo como Keiko, ao chegarem à Presidência, se mostrem líderes democráticos e que respeitem as instituições do país. Porém, ambos têm dívidas com relação ao Peru dos anos 1990. Seria importante que ambos deixassem claro o que pensam sobre os acontecimentos daquela época e o que pretendem fazer para sanar os males causados então.

Afinal, eles são uma das causas da instabilidade política do país.

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30 anos depois, Vargas Llosa apoia fujimorismo https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/2021/04/18/30-anos-depois-vargas-llosa-apoia-fujimorismo/ https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/2021/04/18/30-anos-depois-vargas-llosa-apoia-fujimorismo/#respond Sun, 18 Apr 2021 13:09:51 +0000 https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/04/download.jpg https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/?p=3781 Mais de 30 anos depois de ter sido derrotado por Alberto Fujimori no segundo turno das eleições de 1990, o escritor e prêmio Nobel Mario Vargas Llosa, 85, tem participado vivamente do debate político no Peru. Perder para um adversário que depois lideraria um governo autoritário e com graves abusos contra os direitos humanos colocou Vargas Llosa numa posição de ainda mais destaque do que já tinha por sua literatura.

O autor de “Lituma nos Andes” passou a figurar como herói anti-fujimorista, que havia tentado impedir os graves acontecimentos que se seguiriam. Deste lugar, ganhou afetos e a simpatia de quem não concordava com a escalada ditatorial do engenheiro. Até então um desconhecido no cenário, Fujimori é descendente de imigrantes e se identificava com os cantos esquecidos do país, enquanto Vargas Llosa tinha o apoio do setor em que nasceu, a elite urbana do país.

Vargas Llosa foi a principal voz crítica da autocracia imposta por Fujimori após o fechamento do Congresso, em 1992. E, depois da redemocratização do país, dos estragos que o fujimorismo impunha em sua ação vingativa a partir do parlamento, sendo o principal responsável, por exemplo, da queda de dois presidentes nos últimos anos, PPK (Pedro Pablo Kuczynski) e Martín Vizcarra.

Tudo isso mudou no último sábado (17), quando Vargas Llosa afirmou que apoiaria o movimento que foi seu principal inimigo. Em uma coluna publicada no jornal espanhol El País, sob o título “Chegando perto do abismo”, o escritor disse que tinha “combatido o fujimorismo de maneira sistemática, assim como fiz contra todas as ditaduras, de esquerda ou de direita. Creio que, nas próximas eleições, os peruanos devem votar por Keiko Fujimori, porque representa o mal menor e há, com ela no poder, mais possibilidade de salvar nossa democracia, enquanto com Pedro Castillo não existe nenhuma”.

Vargas Llosa se refere à votação de segundo turno, em 6 de junho, das eleições presidenciais, que serão disputadas entre a filha do ex-presidente, Keiko, de direita, e o esquerdista Pedro Castillo, um outsider que Vargas Llosa identifica com o projeto chavista. Ou seja, a lógica do escritor é a de que, entre um governo que evoca um regime autoritário de direita e outro que se espelha numa experiência autoritária de esquerda, seria melhor apostar no primeiro.

A mudança de opinião e o apoio de Vargas Llosa ao fujimorismo poderia ser apenas uma curiosidade, se ele não fosse o intelectual mais importante do Peru. Ali, sua palavra é ouvida pela sociedade, tanto é assim que os dois candidatos se manifestaram sobre o tema.

Keiko Fujimori telefonou para o escritor, agradeceu o gesto e afirmou estar de acordo com as garantias democráticas que Vargas Llosa pede, em seu texto, além de reafirmar o compromisso de respeito aos direitos humanos. Já Pedro Castillo afirmou que a declaração pouco importa, porque Vargas Llosa já não conhece o Peru e opina desde sua mansão em Madri –de fato, o escritor já vive há anos na capital espanhola.

O que é claramente uma contradição com relação a suas convicções históricas, por outro lado revela o pragmatismo de Vargas Llosa entre escolher sempre o que, para ele, seria o “mal menor”, a cada eleição. A questão é que estes “males” tampouco tiveram muito êxito, e a cada decisão, Vargas Llosa vai se desacreditando junto à sociedade peruana.

No período da redemocratização, Vargas Llosa apostou em Alejandro Toledo, que terminaria seu mandato em 2006 com um dos menores níveis de aprovação da história do Peru.

Em 2006, Vargas Llosa posicionou-se com vigor contra a candidatura de Ollanta Humala, então líder militar nacionalista de extrema-esquerda. Seu temor de que um populismo estilo chavista tomasse o Peru o fez preferir a vitória de Alan García, que de fato ocorreu. García acabou suicidando-se enquanto respondia a processo por corrupção, enquanto Toledo foi condenado e é foragido da Justiça.

Inconformado com a nova postulação de Humala em 2011, o escritor voltou a apoiar Toledo, mas este foi eliminado no primeiro turno. Vargas Llosa, então, teve de optar entre dois candidatos que não lhe agradavam nem um pouco.

De um lado, a mesma Keiko Fujimori, do outro, Humala. Em suas palavras, era como ter de escolher “entre o câncer e a AIDS”. Mesmo assim, não quis abster-se, e deu seu voto de confiança a Humala depois que este fez amplas promessas de que se posicionaria no centro do espectro político, adotaria políticas de mercado e não desse ouvidos a seus familiares, ainda bastante metidos numa militância extremista de esquerda. Hoje, Humala também enfrenta processo por corrupção e passou um tempo na cadeia.

Em 2016, a disputa foi entre Keiko e PPK, pois Vargas Llosa ficou com PPK, que acabou afastado pelo parlamento e, adivinhem, foi também processado por corrupção.

Cada vez mais, os fãs da magnífica obra de Vargas Llosa parecem preferir deixar de ouvi-lo falar sobre política, tamanhas são suas contradições e contorcionismos retóricos. A derrota como candidato presidencial em 1990 acabou dando ao mundo livros inesquecíveis e um prêmio Nobel das letras. Isso é o que está para ser celebrado.

 

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América Latina em 2021, o que vem por aí? https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/2021/01/05/america-latina-em-2021-o-que-vem-por-ai/ https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/2021/01/05/america-latina-em-2021-o-que-vem-por-ai/#respond Tue, 05 Jan 2021 23:58:45 +0000 https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/pleb2-320x213.png https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/?p=3714 Se 2020 foi um ano difícil para a América Latina, 2021 não parece que será muito melhor. Economias que já vinham desacelerando iniciam o o ano com quedas de PIB acentuadas por conta da pandemia. Na área da saúde, as novas ondas ou mutações do coronavírus parecem estar chegando muito mais rápido do que as vacinas. E, no meio de toda essa tempestade, vários países vão trocar de comando ou renovar parlamentos. Com isso, veremos candidatos fazendo promessas de campanha que dificilmente poderão cumprir e governantes tendo de realizar ajustes pouco populares que, deste modo, devem colocar mais lenha na fogueira das tensões sociais.

Más notícias já começaram nesta terça-feira (5), com a posse da nova Assembleia Nacional venezuelana, eleita em um pleito marcado por irregularidades e pelo boicote dos principais partidos. Assim sendo, o parlamento, último bastião de uma bastante imperfeita oposição, acaba de cair. O chavismo, agora, toma conta do Executivo, do Judiciário e do Legislativo de um país em grave crise humanitária, sem liberdade de expressão e com centenas de presos políticos. Para quem tinha dúvidas sobre o caráter ditatorial do regime, o discurso de Jorge Rodríguez prometendo perseguir Juan Guaidó e seus seguidores ajuda a dissipá-las.

O Chile vive um ano de transformações e sonhos, e espera-se que estes não se frustrem. Um calendário eleitoral atolado de votações, porém, pode atrapalhar um pouco. Em 11 de abril, os chilenos voltam às urnas para escolher os 155 integrantes da Assembleia Constituinte. O voto dos chilenos, em outubro último, no plebiscito que decidiu pela redação de uma nova Carta, foi nitidamente contra a classe política hoje no poder. Se isso sugere uma renovação, é uma excelente notícia. Mas é uma pena que a eleição para essa assembleia vá ser atropelada por uma campanha presidencial que já começou _o Chile escolhe o sucessor de Sebastián Piñera em 21 de novembro. Se o ano anterior foi de protestos constantes e nervosos, este será de escolhas, num país em que o debate está muito polarizado. O que parece certo é que o chamado “modelo chileno” deve terminar de se desmontar. O que viria no lugar dele?

As pesquisas indicam que o mal-estar contra a política tradicional, já sugerido no plebiscito, continuará. Prova disso é que quem lidera as pesquisas, o prefeito comunista de Recoleta, Daniel Jadue, tem apenas 18% das intenções de voto. E, em segundo lugar, está o direitista Joaquín Lavín, com 11%. Em terceiro lugar, o ex-chanceler de Bachelet, Heraldo Muñoz, com 3%. Ou seja, a maioria dos eleitores ainda está indeciso, ou não quer votar, o que deixa o cenário bastante aberto. A atual popularidade de Piñera também não entusiasma mais ninguém: 16%.

 

A primeira eleição presidencial do ano ocorre em pouco mais de um mês. Trata-se da escolha do sucessor de Lenín Moreno no Equador, em 7 de fevereiro. Depois de um ano de revoltas e em que a cisão da sociedade ficou clara, veio o ano da peste. Foi da cidade litorânea de Guayaquil que vieram talvez as mais terríveis imagens da chegada do coronavírus na região. Hospitais e cemitérios lotados, corpos abandonados nas ruas, enterros coletivos sem identificação dos cadáveres.

O governo de Lenín Moreno, que tão logo começou, em 2017, já se opôs a seu padrinho, Rafael Correa, foi marcado especialmente por esses dois eventos: as manifestações indígenas de 2019 contra o ajuste no combustível e o modo como o país foi golpeado pela pandemia. Todo o demais acabou ficando pequeno. Moreno, mesmo, não buscou nem sugeriu concorrer à reeleição. O governo sequer terá um candidato próprio na contenda.

Mas Rafael Correa, que se sente injustiçado e está condenado a 8 anos de cadeia por corrupção, não desistiu de nada. Primeiro, insinuou candidatar-se a vice de Andrés Arauz, repetindo a fórmula de Cristina Kirchner com Alberto Fernández, mas não deu certo. O fato de estar sentenciado e foragido _vive na Bélgica_ impediu que se candidatasse. Mas seu novo apadrinhado, participará e, se ganhar, terá o mesmo dilema de Moreno, ou ser um fantoche nas mãos de Correa ou também romper as relações com ele.

Arauz concorre com outros 15 candidatos, embora vários com indicação de uma votação inexpressiva. Quem lidera é o candidato de Correa, com 24% das intenções de voto. Em segundo e em terceiro, ressurgem dois veteranos da política equatoriana de poder regional e setorizado, o empresário Alvaro Noboa, com 17%, e o banqueiro Guillermo Lasso, com 12%. Arauz é de Quito, os últimos dois, de Guayaquil, coração financeiro do país. Assim como no Chile, os que não sabem em quem votar ou simplesmente não querem votar são mais de 50%. A rejeição ao modelo político tradicional também se nota no Equador.

Já os peruanos deveriam estar aliviados com a chegada das eleições, em abril, quando finalmente poderiam colocar fim a um mandato em que deu quase tudo errado. Houve três presidentes e dois Congressos, que se sabotaram o tempo todo entre si. Porém, não é bem assim. A apatia e a falta de envolvimento com as possíveis candidaturas também se nota no país andino.

A liderança nas pesquisas é do ex-goleiro do popular time Alianza e atual prefeito do município de La Victoria, George Forsyth, com uma cifra também magra, 18% das intenções de voto. Em segundo, está Julio Guzmán, do partido Morado, que cresceu muito nos últimos tempos. Na eleição mais recente, Guzmán vinha liderando, até que sua candidatura foi impugnada por uma questão técnica que foi bastante contestada. Porém, ele pertence ao partido Morado, do atual presidente interino do país, Francisco Sagasti, o que poderia ajudar a dar um impulso à sua candidatura.

Atrás de Guzmán, está a esquerdista Verónika Mendoza, com 6,5%, que foi uma das responsáveis por desempatar a eleição de 2016, em que o centro-direitista Pedro Pablo Kuczynski venceu por muito pouco a direitista Keiko Fujimori. No último momento, Mendoza anunciou o apoio da esquerda ao candidato, com quem admitia publicamente ter muitas diferenças, apenas para impedir a volta do fujimorismo ao poder. Agora, Mendoza planejava voar mais alto, mas com essa intenção de voto, pode não ser uma candidata competitiva. De todo modo, os números do Peru também mostram que um setor grande do eleitorado tampouco está decidido ou animado a votar. Assim como no Chile e no Equador.

Também haverá “eleição” na Nicarágua, e deixo entre aspas porque a ditadura já inviabilizou legalmente a participação da oposição, o que deve fazer com que seja fácil que tanto Ortega como sua mulher, Rosario Murillo, assim que decidirem quem concorrerá, vença o pleito. Murillo é uma figura-chave do regime hoje. Além de vice-presidente, é a figura mais ativa e a voz mais ouvida do governo, enquanto Ortega tem passado vários meses desaparecido, surgindo apenas de vez em quando.

Outro país centro-americano cheio de problemas irá às urnas neste ano, trata-se de Honduras, que, além da crise econômica e da pandemia, lida com o impacto de furacões e dos enfrentamentos entre grandes empresas mineradoras e líderes ambientalistas, embate que já levou à morte muito destes.

Há, ainda, duas eleições legislativas importantes. Na Argentina, onde vários economistas preveem que virá uma crise como a de 2001 e no México, onde a gestão de López Obrador será julgada nas urnas. O mexicano elegeu-se em 2018 prometendo uma renovação pela esquerda, mas tem se mostrado cada vez mais um populista conservador que, ainda por cima, não vem lidando nada bem com a pandemia.

 

O que certamente está garantido é que não faltarão notícias na região.

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Um diálogo entre Vargas Llosa e Borges https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/2020/08/14/um-dialogo-entre-vargas-llosa-e-borges/ https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/2020/08/14/um-dialogo-entre-vargas-llosa-e-borges/#respond Sat, 15 Aug 2020 01:16:37 +0000 https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/08/5f2f4e55e3aa9-320x213.jpg https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/?p=3631 Acaba de sair em espanhol, pela Alfaguara (importado), “Medio Siglo Con Borges” (meio século com Borges), uma coletânea de textos _entrevistas, ensaios, conferências e críticas_ do Nobel peruano de literatura, Mario Vargas Llosa, 84, sobre e com o argentino Jorge Luis Borges (1899-1986). Trata-se de um volume curto (106 págs.), sem previsão de lançamento no Brasil, mas de um valor inestimável para quem curte literatura contemporânea _e não apenas latino-americana.

É claro que, por se tratar de um livro de Vargas Llosa, que nunca deixou de cultivar sua vaidade assim como sua excelente literatura, a obra se trata do argentino, mas em muitos momentos o que sobressai mais é a personalidade forte do peruano. Dado o devido desconto, vale, e muito, percorrer suas páginas.

Sem dúvida, os textos mais interessantes são as duas entrevistas incluídas no volume. A primeira, realizada em 1963, em Paris, por um novato Vargas Llosa, para a Rádio e Televisão Francesa, a um escritor já internacionalmente conhecido. A segunda, feita pelo peruano em Buenos Aires, na casa de Borges, que, na ocasião, já havia perdido quase por completo a visão, e deixou-se observar minuciosamente pelo interlocutor.

Na primeira, Borges se mostra surpreso pela popularidade, na França, de seus livros “História Universal da Infâmia” e “História da Eternidade”: “Queria agradecer pessoalmente a cada um dos leitores, ou apresentar-lhes minhas desculpas”, afirma. Quando Vargas Llosa o provoca sobre suas leituras em francês, Borges cita Montaigne e Flaubert, mas o peruano depois se mostra decepcionado pelo fato de o argentino, naquela ocasião, não se mostrar tão obcecado por Jean-Paul Sartre (1905-1980), a quem Vargas Llosa venerava.

Na segunda, Vargas Llosa oferece um detalhado relato sobre o apartamento em que Borges morava, em Buenos Aires, naquela época: “Vive num apartamento de dois quartos e uma sala de jantar, com um gato que se chama Beppo (assim como o gato de Lord Byron) e uma empregada de Salta, que cozinha e lhe serve também de guia (por conta da cegueira). Há poucos móveis, puídos, enquanto a umidade imprimiu olheiras escuras nas paredes. O quarto de sua mãe, com quem viveu toda a vida, está intacto, inclusive com o vestido lilás esticado sobre a cama, pronto para vestir. Porém, essa senhora morreu há vários anos”, conta o peruano.

Vargas Llosa se espanta pelo fato de não haver livros de Borges em sua biblioteca, nem livros sobre Borges. E recebe uma excelente resposta: “Quem sou eu para me colocar na estante ao lado de Schopenhauer?”. Mais longa, essa conversa se aprofunda mais em questões literárias e políticas, se fala de modernismo, das características sociais da Argentina, de peronismo e anti-peronismo e diferem sobre o formato do romance. Vargas Llosa o defende, enquanto Borges valoriza a artesania do conto e da poesia.

Em outros textos, Vargas Llosa revela sua admiração e o quanto redescobre a cada nova leitura de Borges, embora assumindo que seu trabalho está nas antípodas do argentino. Enquanto este criou um universo fabuloso, labiríntico, imaginativo, Vargas Llosa se prende à realidade, em linhas muito gerais.

“Creio que Borges inventou uma língua, e eu não”, resume o peruano.

 

 

 

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Triste fim da trajetória política do homem que derrotou Fujimori https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/2017/02/27/triste-fim-da-trajetoria-politica-do-homem-que-derrotou-fujimori/ https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/2017/02/27/triste-fim-da-trajetoria-politica-do-homem-que-derrotou-fujimori/#comments Mon, 27 Feb 2017 18:34:01 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/?p=2746 O ex-presidente peruano Alejandro Toledo (Foto El Comercio)
O ex-presidente peruano Alejandro Toledo (Foto El Comercio)

Aos 70, abandonado por seus antigos aliados políticos _entre eles o atual presidente, Pedro Pablo Kuczynski_, atacado pela imprensa e único dos três ex-presidentes peruanos suspeitos de terem recebido propinas da Odebrecht a de fato ter um mandato de prisão emitido contra si, Alejandro Toledo chega ao fim de sua trajetória política de uma forma no mínimo embaraçosa. Nos EUA, agarrado a seu posto de acadêmico e professor de Stanford, não dá mostras, por ora, de querer entregar-se.

O que vemos, porém, é o ocaso de um personagem político cujo surgimento movimentou tamanhas esperanças e ilusões no Peru que, ao menos por coerência histórica, não deveria aposentar-se abraçado a um crime de forma tão vexaminosa.

Assim vêm lamentando, também, alguns de seu célebres apoiadores, como o jornalista Gustavo Gorriti e o escritor Mario Vargas Llosa, que estiveram ao lado de Toledo quando este se transformou na força política capaz de agregar votos e apoio para vencer a autocracia de Alberto Fujimori, nos anos 1990.

A arrancada política de Toledo se deu em 1995, quando este homem de origem humilde (o oitavo de dezesseis filhos de um casal de Áncash, dos quais apenas nove sobreviveram pelas condições precárias da família), que na infância tinha lustrado sapatos e sido vendedor ambulante até ganhar uma bolsa para estudar economia nos EUA, lançou o partido Perú Posible, e participou das eleições de 1995. Perdeu para Fujimori, mas se reapresentou novamente em 2000, indo com o presidente para o segundo turno. Desistiu, porém, de competir no “ballotage” porque suas denúncias de fraude no primeiro turno não foram ouvidas nem investigadas pela Justiça. Resultado, Fujimori ganhou outra vez.

Toledo propôs, então, uma resistência pacífica, e organizou protestos contra aquela autocracia que aglutinaram multidões, liderou marchas históricas como a dos “Cuatro Suyos”, em referência às quatro regiões em que estava dividido o Império Inca nos tempos pré-colombianos. Tentou alcançar os eleitores de Fujimori no interior, evocou seu passado mestiço, passou uma mensagem de conciliação que uniria a costa moderna do país aos ancenstrais confins dos Andes.

Enquanto isso, o fujimorismo se enroscava em si mesmo, devido à divulgação dos chamados “vladivídeos” e as denúncias de corrupção. Nessas gravações, o homem forte de Fujimori, Vladimiro Montesinos, chefe do Serviço Nacional de Inteligência, aparecia comprando apoio de congressistas da oposição.

Fujimori foi destituído e deixou o país ante o início de um processo de “impeachment”. Novas eleições foram chamadas em 2001, e Toledo foi ao segundo turno, desta vez vencendo Alan García com a expressiva marca de 53,08% dos votos.

Um balanço justo de seu governo veria entre os aspectos positivos o início da arrancada do crescimento do PIB, uma onda de investimento estrangeiro que começou então e se estendeu na década seguinte, a abertura do país para tratados de livre-comércio. O gosto amargo ficou por conta de uma crise de governabilidade criada por desentendimentos no Congresso, enfrentamentos com grupos indígenas que não aceitaram sua migração para o centro e o abandono da ideia de um governo popular, e o conflito com extremistas nacionalistas do interior que resultaram numa queda pronunciada de sua popularidade, que chegou a 8% _depois recuperou-se, encerrando o mandato com por volta de 35%.

Toledo durante a Marcha dos Cuatro Suyos, nos anos 1990 (Foto Arquivo)

Toledo foi uma promessa cumprida pela metade. Porém, pelo que simbolizou naquele momento de entusiasmo pela perspectiva de encerrar o período autoritário do fujimorismo, de devolver aos setores populares certo protagonismo, de redemocratizar o país, deveria bastar para assegurar ao ex-presidente um lugar nobre na história do Peru neste século.

Infelizmente, não vem sendo assim, ao que parece por sua própria culpa, caso se confirmem as acusações contra ele, de ter recebido US$ 20 milhões de dólares de suborno da Odebrecht. Mais, ao se negar a voltar para o Peru _Toledo há anos mantém uma atividade acadêmica nos EUA_ e enfrentar a Justiça, o ex-presidente mancha ainda mais seu legado, transformando-se num foragido da Justiça peruana e motivo de ataques à sua reputação, imagem e herança política.

É triste comparar esse quadro com o de grande esperança que ele representou, ao construir nos anos 90 a única alternativa política capaz de derrotar Fujimori.

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Os 100 primeiros dias de um líder improvável https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/2016/11/04/os-100-primeiros-dias-de-um-lider-improvavel/ https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/2016/11/04/os-100-primeiros-dias-de-um-lider-improvavel/#comments Fri, 04 Nov 2016 16:49:03 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/?p=2601 O presidente peruano Pedro Pablo Kuczynski (Foto AP)
O presidente peruano Pedro Pablo Kuczynski (Foto AP)

O presidente peruano de centro-direita Pedro Pablo Kuczynski, 78, ganhou as eleições neste ano por uma margem muito pequena (cerca de 50 mil votos) e boa parte de seus eleitores queriam mais era afugentar a ameaça da volta do fujimorismo do que votar nele por pura convicção. Logo de cara, as dificuldades que surgiam diante deste mandatário criado fora do Peru e criticado por não conhecer bem seu país não eram poucas. Apesar da boa performance macroeconômica, o Peru começava a sentir o abalo da desaceleração econômica mundial, a crise regional, o aumento dos conflitos sociais no campo, enquanto no Congresso sua agrupação política não contava com mais do que 17 deputados.

Não é por menos que seus 100 primeiros dias de governo, completados nesta semana, foram coalhados de fricções internas e dificuldades. Aos poucos, PPK começa a trilhar a senda histórica dos presidentes peruanos, cuja popularidade começa a cambalear no princípio do governo e tende a ir despencando ao longo do mandato. Se no primeiro mês, após derrotar Keiko Fujimori, PPK chegou a ter 70% de aprovação, agora as pesquisas lhe dão entre 52% e 55%, o que está bem acima de outros líderes da região no momento, mas que mostra um desgaste acelerado.

Para isso, colaboram alguns fatores.

Primeiro, houve um escorregão logo de cara justamente com o parlamento. Um pouco desbocado como de costume, PPK logo afirmou não se assustar com os mais de 70 deputados fujimoristas que o compõem, e soltou a seguinte frase, entendida como uma gafe incômoda: “desses 73, há uns 30 que apoiaram Keiko achando que ela ia ganhar e que eles assim receberiam benefícios”. Muitos dos deputados não gostaram da sugestão de que seriam passíveis de corrupção e o clima que já não era bom para PPK na casa ficou um pouco mais amargo.

Depois, veio um escândalo de corrupção envolvendo um ex-assessor do presidente, Carlos Moreno. O caso soma-se a outras acusações e denúncias contra funcionários próximos, o que mancha um pouco seu discurso de campanha, de que seria um presidente com “tolerância zero” com a corrupção.

Também contam contra ele a falta de habilidade para lidar com o tema da mineração, algo em que Keiko Fujimori vinha trabalhando com mais afinco. Em muitas regiões do Peru, comunidades revoltam-se com a expansão da mineração a céu aberto e contra o aumento de áreas para a mineração que obrigam comunidades a serem removidas, assim como é latente o avanço da mineração ilegal. O ambiente nessa área vem se tornando mais tenso, com protestos por ora pontuais ocorrendo no interior do país.

Entretanto, das fronteiras para fora, PPK vem surgindo, de modo improvável, como um líder reluzente e de tom firme. Num momento de vazio de comando regional na América Latina, vai se transformando num chefe regional quase que casualmente. Com o Brasil vivendo ainda uma fase de transição pós-“impeachment”, uma Argentina na qual Macri tem tido crescentes tensões internas para resolver, um México desmoralizado por não conseguir conter a violência do narcotráfico e uma Colômbia completamente concentrada nos assuntos relacionados ao processo de paz, parece estar caindo no colo de PPK a responsabilidade de falar mais alto, nos fóruns regionais, sobre os problemas da região.

Pelo menos foi essa a sensação que passou na última Cúpula Iberoamericana, em Cartagena, quando foi o único presidente a levantar a voz para tratar da crise na Venezuela, frente a frente com a representante desse país _que acabou sendo a chanceler Delcy Rodríguez, em vez do próprio Nicolás Maduro, que desistiu no último minuto. No mesmo encontro, os chanceleres do Mercosul preferiram a prudência e disseram que aguardariam o esperado diálogo de governo e oposição mediado pelo Vaticano.

“Não falo por querer me intrometer em assuntos de outro país, nem por estar defendendo alguma posição ideológica, mas sim porque creio que nossos países têm de andar para frente e não retroceder”, disse, em sua intervenção aberta, deixando claro que falava da Venezuela. Apesar de os temas da Cúpula serem a educação e a juventude, PPK afirmou que não se podia desviar a atenção dos problemas graves e urgentes que ocorrem neste momento no país-vizinho. E essa foi apenas a parte pública.

Em privado, no almoço entre os líderes que não pôde ter presença de público ou de jornalistas, PPK foi ainda mais agressivo e sincero ao criticar o governo venezuelano e a chamar a atenção para a gravidade da situação. Quem esteve ali dentro contou que, titubeante, a chanceler venezuelana apenas fazia uma defesa teórica e emotiva da alma do chavismo e não conseguia articular uma defesa concreta. PPK ainda vem tentando, com os pares da região, articular uma ação mais enfática para tentar solucionar a crise do país, que desestabiliza a região.

É curioso e improvável que um senhor já de avançada idade, que teve pouco mais de 20% dos votos no primeiro turno das eleições em seu país, que a venceu apenas por conta do voto útil de rejeição ao fujimorismo e que tem um Congresso voltado contra ele dentro de casa, fora dela estaja juntando forças e começando a desenhar-se como o líder regional de que a América Latina, pelo menos neste momento, não possui e carece de modo urgente.

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Justiça chega, com atraso, às vítimas de Accomarca https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/2016/09/01/justica-chega-com-atraso-as-vitimas-de-accomarca/ https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/2016/09/01/justica-chega-com-atraso-as-vitimas-de-accomarca/#respond Thu, 01 Sep 2016 21:21:59 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/?p=2498 Familiares de vítimas carregam o que sobrou do povoado de Accomarca (Foto Arquivo)
Familiares de vítimas carregam o que sobrou do povoado de Accomarca (Foto Arquivo)

Demorou 31 anos, mas finalmente saíram, na noite de quarta-feira (31), as sentenças dos responsáveis do Massacre de Accomarca, ocorrido em 14 de agosto de 1985 nesse pequeno povoado da província de Ayacucho, no Peru. A região foi um dos principais focos de ação da guerrilha Sendero Luminoso. Numa época em que os crimes cometidos pelo bando aterrorizavam o Peru, o governo do então presidente Alan García havia dado ordens para que o Exército atuasse com mão-dura na região.

Só que os mortos em Accomarca, como foi simples e rápido provar depois da tragédia, não tinham nada a ver com a guerrilha. Mesmo assim, a patrulha comandada pelo tenente Telmo Hurtado, ao chegar ao local, reuniu os 69 camponeses que aí encontrou. Antes de mais nada, os soldados estupraram as mulheres. Depois, todos foram colocados dentro de duas casas, onde foram metralhados e abandonados com granadas que logo explodiram o local. Entre as vítimas estavam 30 menores de idade (uma das crianças tinha apenas dois anos), 27 mulheres e 12 homens.

Nesta semana, com os familiares esperando do lado de fora do tribunal e grande concentração dos meios locais, finalmente foram lidas as sentenças contra Hurtado (23 anos de prisão) e outros nove membros do Exército que participaram do massacre.

Mortos “por engano” durante a guerra contra o Sendero Luminoso não foram poucos. Durante o fujimorismo, houve pelo menos outros dois casos similares, La Cantuta (1992, onde foram assassinados um professor e nove de seus alunos) e Barrios Altos (1991, com 15 mortos civis, também não relacionados à guerrilha). Se não era por ação direta do Exército, era via esquadrões da morte financiados pelo governo, como o fujimorista Grupo Colina.

Além das tragédias em si, o que impressiona mais é a lentidão da Justiçaperuana em identificar, julgar e sentenciar os responsáveis. Os habitantes de Accomarca, por exemplo, segundo o relato de um jornalista do “La Republica”, costumavam reencenar cenas do julgamento, em que o juiz do caso sempre aparecia dormindo. Uma piada sinistra, mas segundo os familiares, eram assim mesmo as sessões, lentíssimas e interrompidas por qualquer pretexto. Enquanto houve adiamentos de pelo menos 30 das 250 audiências, a Justiça aceitava a ausência dos militares sempre que se declaravam doentes, e isso foi prática bastante comum nessas três décadas.

Grupos de direitos humanos afirmam que a demora não é apenas a típica da Justiça local peruana, mas sim agravada pela negligência com relação às vítimas, gente humilde proveniente de regiões afastadas do interior, em sua maioria de origem indígena _muitos se expressam apenas em quéchua, por exemplo. Após o massacre, Hurtado e outros militares envolvidos foram anistiados por Fujimori, alguns foram para os EUA. Apenas recentemente a Justiça mandou extradita-los para o julgamento.

A defesa dos militares argumentou que eles apenas haviam cumprido ordens. Hurtado disse que tinha apenas 23 anos e acabara de entrar no Exército, “fui para onde me mandaram, para lutar por algo que acreditava que era o correto”, disse, em entrevista a um meio local. Questionado sobre porque considerou que um garoto de 2 anos poderia ser um terrorista, porém, saiu-se com a resposta de que a guerrilha “torcia as crianças desde muito cedo”.

A guerra entre o Exército, as milícias camponesas e o Sendero Luminoso fez mais de 70 mil vítimas no Peru. É uma ferida enorme e ainda aberta que, depois do período fujimorista (1990-2000), poucos governos quiseram sanar de verdade. Para eles e para a sociedade, parecia que era melhor fechar os olhos e apenas convencer-se de que o pesadelo das bombas, dos atentados e do toque de recolher havia passado. Só que feridas abertas seguem causando dano se não são sanadas, pelo menos com o esclarecimento da verdade. No interior do país, por exemplo, resquícios do Sendero ainda resistem e seguem realizando atentados esporádicos que vitimam camponeses inocentes. O Exército, se não for repreendido pelos abusos do passado, seguirá cometendo os mesmos abusos no presente. Ambas as coisas deveriam deixar de acontecer.

O início de um novo governo, do centro-direitista Pedro Pablo Kuczynski, é uma boa oportunidade para colocar mais ênfase na investigação dos responsáveis por sequestros, mortes e massacres do período (1980-1999). Ao menos para que a história desse período terrível seja escrita e que as novas gerações conheçam a verdade daquela época. Esforços como os do Centro de Memória Histórica da Colômbia, um órgão criado pelo governo para esclarecer os fatos ocorridos durante a guerra contra as Farc, seriam já um bom começo. Já a ação da Justiça deveria ser mais rápida, porque nem todas as vítimas podem esperar trinta anos por uma reparação.

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