Capivaras invadem bairro de Buenos Aires
Num país altamente polarizado como a Argentina, a crescente aparição de capivaras num bairro privado e rico da Grande Buenos Aires criou mais um debate político. O Nordelta é uma área de 1.500 hectares localizada no Delta do Rio Paraná. Ali, construiu-se, no que antes era o habitat natural de diversos animais, um exclusivo e luxuoso bairro que hoje abriga 40 mil pessoas. Muitas casas têm um jardim que dá para o rio.
As capivaras sempre estiveram na região, mas em muito menor número. Com o avanço imobiliário, seus predadores naturais, como onças que viviam ali até a chegada do homem, foram mortos ou expulsos. Com isso, as capivaras, que se reproduzem rapidamente, passaram a dominar a paisagem. Hoje, a população estimada no Nordelta é de 400 capivaras. Segundo projeção de ambientalistas, poderia chegar a 3 mil em menos de dois anos.
Na última semana, vários episódios engraçados e, alguns, violentos, ocorreram. As capivaras, que muitas vezes chegam nadando nas residências, foram vistas devorando jardins e hortas bem cuidados, distribuindo montes de fezes e assustando crianças. Embora seja um roedor que não ataca o homem, houve choque entre elas e animais domésticos, em que vários cães saíram machucados.
Alguns vizinhos adotaram um comportamento mais hostil, dando tiros de espingarda para o alto para tentar afugenta-las.
As fotos da “invasão” das capivaras, que andam em geral em grupos familiares de 10 a 20 animais, passaram a circular nas redes e logo viraram memes. Entre os internautas de esquerda, a chegada dos animais foi vista como uma revanche da natureza contra o furor imobiliário do capitalismo. Por outro lado, moradores do local mostravam seu desespero, mostrando seus jardins destruídos ou seus pets feridos.
Por ora, os planos para resolver o problema não saíram do papel e geram muito debate. Segundo a Associação de Vizinhos do Nordelta, a ideia é estimular “uma convivência pacífica” entre seres humanos e capivaras. Ao mesmo tempo, criar um espaço onde possam ficar e ter alimento suficiente, “para que não se vejam obrigadas a atacar os jardins”. Num último caso, afirmam, pensam transporta-las para outro lugar.
Há moradores que creem que as medidas são insuficientes, outros, que vão demorar muito. Outros, buscam “fazer amizade” com as capivaras e as convidam para tomar mate. Enquanto isso, do lado de fora, organizações de defesa dos direitos do animal e de proteção ao ambiente pede soluções mais estruturais. Entre elas, conter o avanço da construção de condomínios em uma área rica em fauna e flora.
Enquanto não se chega a nenhuma decisão, as capivaras, ou “carpinchos”, como se diz em castelhano, estão entre os trending topics na Argentina.