Cinco ondas de manifestações que marcaram a Colômbia
Há mais de um mês ocorrem manifestações nas ruas da Colômbia. O protesto começou contra um projeto de reforma tributária, do qual o governo acabou desistindo. Depois, continuou, reunindo diferentes bandeiras: mais empregos, mais ajudas do governo para enfrentar o impacto da pandemia, fim da violência policial, melhorias econômicas, fim da discriminação das minorias, entre outras coisas. A onda não tem data para acabar. Afinal, neste momento, o governo negocia mal e com os atores equivocados. Suas reuniões, nas quais, até agora, não se chegou a nenhum acordo, estão sendo feitas com um “comitê nacional de greve”, que é composto por trabalhadores sindicalizados. Ou seja, por pessoas que representam apenas um pequeno setor dos manifestantes. O grosso de quem está nas ruas é composto por desempregados, por estudantes, ou seja, por pessoas que estão fora do sistema de sindicatos.
Enquanto o dilema colombiano continua, o blog reúne alguns dos principais movimentos que encheram as ruas no país em sua história recente, e que vale à pena serem conhecidos para ajudar a jogar luz ao atual momento.
Quando as ruas derrubaram um presidente pela primeira vez
Em 1909, o país era governado por um militar, o general Rafael Reyes (1849-1921), que perseguia opositores, se opunha à independência do Panamá e mostrava-se com intenções de eternizar-se no poder. Em 13 de março daquele ano, milhares de pessoas encheram as ruas de Bogotá pedindo sua renúncia. A repressão foi grande, houve enfrentamentos, detenções e mortes. Reyes declarou, então, um estado de sítio. Mas a população não obedeceu e os manifestantes continuaram nas ruas, apesar das proibições. Reyes acabou renunciando.
Um massacre imortalizado por Gabo
Em 1928, trabalhadores da companhia norte-americana United Fruit Company, se reuniram para pedir melhores salários e direitos trabalhistas. A empresa pediu a ajuda do governo, que por sua vez temia que o protesto virasse uma revolução comunista. O Exército foi enviado para a região de La Ciénaga, epicentro dos protestos, e abriram fogo contra os grevistas. Historiadores divergem da quantidade de mortos, mas fala-se em milhares. Em “Cem Anos de Solidão”, o conhecido “massacre da bananeira” aparece, num tratamento literário que dá as cores da tragédia que impactou a região.
Bogotazo
Em 1948, o país vivia polarizado entre liberais e conservadores. O líder dos liberais, Jorge Eliecér Gaitán, que era muito popular e defendia causas dos trabalhadores, foi assassinado à queima-roupa em pleno centro de Bogotá. Desatou-se uma violência desenfreada. Até hoje, ninguém sabe ao certo quem mandou matar Gaitán, que tinha ambições presidenciais. O assassino foi morto no local e arrastado pelos gaitanistas pelas ruas da cidade. As manifestações de violência continuaram por meses e parte da cidade foi completamente destruída.
Quando as ruas derrubaram um presidente pela segunda vez
A Colômbia viveu uma ditadura entre 1953 e 1957, comandada por Gustavo Rojas Pinilla (1953-1957). Na época, havia perseguição aos opositores e à liberdade de imprensa. Os estudantes foram os protagonistas dos primeiros protestos, que terminaram de modo violento, com a morte de 10 civis. As mortes revoltaram a população, que reforçou as manifestações a partir daí. Rojas Pinilla respondia com prisões e censura aos principais jornais. Passou a governar de modo cada vez mais autoritário. Em maio de 1957, as multidões tomaram as ruas outra vez, nas chamadas jornadas de maio. No dia 10 de maio, Rojas Pinilla renunciou e partiu para o exílio.
Trabalhadores nas ruas
A maioria dos sindicatos colombianos se reuniram no dia 14 de setembro de 1977 em vários pontos de Bogotá, onde foram armados bloqueios, queimaram-se pneus e automóveis. A multidão reclamava por conta da grave crise econômica que o país atravessava. A inflação era alta e os aumentos dos trabalhadores não alcançava para pagar seus gastos. Entre os que marcharam, estavam trabalhadores de indústrias, professores e estudantes universitários. Houve saques a lojas e supermercados e o saldo foi de mais de 20 mortos. Centenas de pessoas foram detidas e, como o movimento nas delegacias era enorme, acabaram sendo levados ao Estádio de futebol El Campín e mesmo para a Plaza de Toros. Ao final, houve acordo sobre o aumento do salário mínimo, que foi dissolvendo os protestos pouco a pouco, depois de algumas semanas.