O que é que Rafael Correa tem?

Rafael Correa, 57, é a sombra que paira sobre a eleição equatoriana deste domingo (7). Não poderá estar presente, por estar condenado por corrupção, mas pode definir o pleito, ao apoiar um candidato praticamente desconhecido e que, apenas por ser ungido por ele, já é o favorito, pelo menos por enquanto, para ser o próximo presidente do Equador.

A ausência de Correa é maior que a intenção de voto de todos os candidatos.

O mais popular político equatoriano das últimas décadas ficou dez anos no poder (2007-2017). Sua gestão ficou marcada por seu estilo populista, de esquerda e, com o passar dos anos, cada vez mais autoritário. Carismático, envolvente, inteligente, mas também intransigente, machista e de mão-dura, Correa deu estabilidade política a um Equador que havia passado por 4 presidentes em pouco mais de uma década. Embalado pelo “boom das commodities”, pôde promover uma mudança estrutural no país, por meio do repasse de verbas, criando uma nova classe média. Ao mesmo tempo, avançou contra a imprensa, contra seus opositores e sujou as mãos em escândalos de corrupção.

Fiz aqui um pequeno resumo de momentos que marcaram sua gestão, em vídeos que podem ser encontrados no youtube.com e que, talvez, apontem para seu futuro.

  1. Construção da imagem. Em um de seus vídeos de campanha eleitoral, “Bicicleta”, vemos Correa falando com sua voz suave, enquanto pedala por vários cantos do país. Vai da histórica Quito a urbes modernas como Guayaquil, passeia por estradas novas (hoje sabemos, superfaturadas), paisagens andinas deslumbrantes, hospitais e conversa em quéchua com uma família indígena humilde. Em todo o vídeo, vemos que seu objetivo é mostrar-se atlético, carinhoso, sorridente, firme e patriota.

2. Contra a imprensa. Os avanços contra os meios de comunicação foram uma marca da gestão     de  Correa. Foram comuns a pressão financeira para fechar jornais ou obrigar que fossem vendidos a  empresários amigos, processos na Justiça contra jornalistas (alguns deles obrigados a exilar-se) e cenas de humilhação pública, como vemos neste vídeo, em que o então presidente rasga pela TV um exemplar do “El Universo”. Depois ri: “os jornais corruptos não servem nem para embrulhar abacates”.

3. Contra Jon Oliver. O comediante britânico em seu programa na TV americana fez um esquete para tirar um sarro de Correa e sua fúria contra blogueiros e internautas. Fez graça, ainda, pelo fato de o equatoriano ter chamado um palhaço para subir no palco com ele. É preciso lembrar que Oliver é um comediante… Mas mesmo assim Correa ficou enfurecido e respondeu de modo feroz, fazendo com que Oliver dedicasse um novo esquete de resposta ao líder equatoriano.

4. Vínculo com Hugo Chávez. Correa foi muito hábil para embarcar na popularidade do venezuelano no início do seu mandato, chegando a subir no palco com ele para cantar em homenagem ao Che Guevara. Porém, também para afastar-se do chavismo quando este virou um regime ditatorial e passou a receber repúdio internacional. Apesar da retórica do socialismo do século 21, Correa nunca concretizou de fato essa ideia. Hoje, porém, Correa presta seus serviços de advogado ajudando Nicolás Maduro, e defende a Venezuela publicamente contra a comunidade internacional.

5. Promete que não volta à política. Não sei se alguém acredita, mas deixo aqui o registro de uma entrevista recente, em que Correa afirma que não irá fazer nada mais do que “aconselhar Arauz”, caso seu apadrinhado vença as eleições de domingo (7). Afirma mesmo que não quer deixar a Bélgica, onde, de fato, tem parte da vida armada _sua mulher é belga e seus filhos estudam na Europa. Assim como Evo Morales, afirma que não quer intervir nas decisões políticas do apadrinhado. Isso ainda está por ver.