Exposto por negociar com facção criminosa, Bukele avança contra a imprensa
O site independente El Faro é a melhor fonte de informação sobre a América Central _um verdadeiro “farol”, como o nome diz. No início de setembro, publicou uma reportagem investigativa, baseada principalmente em documentos oficiais do sistema penitenciário e em testemunhas, que dava conta de que o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, teria estado negociando com uma das “maras” (facções criminosas) mais violentas e perigosas do país.
A Mara Salvatrucha, grupo presente também na Guatemala e em Honduras, é um dos responsáveis pelos crimes de extorsão, sequestros e assassinatos que atingem milhares de famílias humildes que, por sua vez, são levadas a fugir de seu país de origem todos os anos. Muitos de seus integrantes estão presos, e o presidente Bukele costuma propagandear que as prisões onde estão são de segurança máxima, onde impera um regime em que não há possibilidade de comunicação entre os detentos.
A negociação que o El Faro denunciou estaria relacionada às eleições legislativas marcadas para março de 2021. Bukele teria prometido benefícios nas condições daqueles que estão presos em troca de que reduzissem os assassinatos afim de dar uma boa imagem do governo e, assim, fazer com que o eleitorado votasse em seus candidatos. O resultado do trato já estaria visível. Nos últimos 9 meses da atual gestão, houve uma redução de 56% da cifra de homicídios.
O presidente vem em conflito com o Congresso há meses, e chegou a ameaçar fechá-lo em fevereiro. Como houve imensa repercussão negativa internacional, Bukele recuou. Agora, tenta ganhar espaço no parlamento pelas urnas. Porém, segundo a publicação, com uma “ajudinha” de uma das mais perigosas facções criminosas do mundo.
O caso teve ampla repercussão, e vários outros veículos independentes também publicaram matérias à respeito, enquanto a Procuradoria do país anunciou que investigará a suposta negociação. Bukele nega a acusação, diz que a reportagem “é uma farsa” e que a redução dos homicídios está, na realidade, relacionada à sua política de segurança.
O presidente ainda determinou que o ministério da fazenda investigue a contabilidade do El Faro, ameaçando mandar fechar o site por suposta evasão de impostos e por lavagem de dinheiro. O mesmo está sendo feito, simultaneamente, com outras publicações que estão repercutindo a história, como a revista Fáctum, La Prensa Gráfica e a a publicação Gato Encerrado.
Bukele tem mais de 90% de popularidade, porém muitas de suas ações são criticadas, como deve ser, pelo jornalismo. Entre elas, o abuso de poder durante a pandemia do coronavírus e o avanço contra o legislativo. A imprensa segue sendo uma pedra em seu sapato. Só que afogar financeiramente os meios de comunicação críticos é uma prática típica de governos populistas e intolerantes. Algo com que Bukele, cada vez mais, parece identificado.