Coronavírus na Venezuela é ameaça à região, diz deputado

O vice-presidente da Assembleia Nacional, e um dos nomes em ascensão na oposição venezuelana, Juan Pablo Guanipa, 55, conversou com a Folha sobre a situação de seu Estado, Zulia, no meio da crise do coronavírus. A pandemia veio apenas acrescentar mais um elemento a uma localidade que vem sofrendo apagões, falta de água e de subsídios desde que a crise venezuelana passou a se agravar, em 2019.

Guanipa (55) tem sido a cara mais visível na Assembleia Nacional, de maioria opositora, desde que Juan Guaidó passou a ser alvo de ataques, pessoais e a seus familiares, e tem tido de se resguardar. Foi Guanipa quem representou a Venezuela, por exemplo, na posse de Luis Lacalle Pou, no Uruguai, tendo que fazer boa parte do caminho por terra e cruzando fronteiras de modo não convencional até chegar ao sul do continente.

Desde Maracaibo, onde vive, Guanipa contou que o coronavírus vem atacar a Venezuela em seu pior momento. “Temos 1o0 camas de terapia intensiva operantes em todo o país, e não mais que 36 respiradores”. E que políticas de conscientização da população são difíceis de convencer os venezuelanos, especialmente aqueles que estão fora de Caracas, cidade mais equipada que as demais capitais. “Aqui em Maracaibo as pessoas acordam com o café da manhã que conseguiram garantir na noite anterior, depois saem para a rua para conseguir o almoço, e depois, o jantar. Tudo é informal. Como dizer a essas pessoas que o isolamento é necessário?”, diz à Folha, por telefone.

Guanipa diz que a Assembleia Nacional comemorou o fato de o FMI (fundo monetário internacional) não ter concedido recursos ao ditador Nicolás Maduro. “Todo dinheiro que Maduro arrecada vai para as forças de segurança. A própria resposta que ele está dando ao coronavírus é a de colocar mais forças de segurança na rua, não a de equipar os hospitais”, avisa. Com isso, conta que é frequente ver, em Maracaibo, que os oficiais estacionam seus veículos em praças e lugares públicos para vender gasolina. “Os próprios oficiais sugam o combustível com a boca e enchem barris, que vendem a um preço exorbitante à população, que compra, é o único comércio que se vê aqui”. Além disso Guanipa, defende que todos os médicos e enfermeiros sejam convocados pela emergência do coronavírus. “Hoje nem tem como eles sairem de casa, com ruas vigiadas, extorsão praticada pelos oficiais e falta de equipamentos nos hospitais. A Venezuela vai ser o grande problema da América Latina por conta do coronavírus. Pode ser controlado nos outros países, mas daqui, pode se espalhar de volta”, avisa.