Apesar do discurso conciliatório, ministério da cultura argentino vai para um militante

O presidente Alberto Fernández fez um discurso conciliatório ao assumir o governo, na última terça-feira (10). Disse que quer governar para todos, fechar a “grieta” entre os argentinos e trazer a paz novamente às mesas familiares. Também falou da importância da cultura como “alimento para o espírito” e em seus sentidos mais elevados.

Porém, a realidade é outra. Fernández escolheu para ser seu ministro da cultura um kirchnerista extremamente engajado e militante. Se ninguém conhece ainda o cineasta Tristán Bauer, podemos começar pelo cartaz acima. Trata-se da última produção dele, chama-se “Terra Arrasada” e é sobre como ele crê que a gestão Macri foi desastrosa. Parcial é pouco para defini-lo. Cristina Kirchner elogiou a produção ao criticar duramente Macri em seu discurso na Praça de Maio, logo após a posse.

Bauer é um cineasta talentoso. Seu “Iluminados por el Fuego” (2005) é o melhor filme que há sobre as sequelas deixadas pela Guerra das Malvinas (1982), e trata da realidade dos ex-soldados, muitos anos depois do conflito. Porém, se trata de alguém tão politicamente engajado, que não deveria usar um cargo público dessa importância para promover ideais partidários e não os do Estado.

O pior é que isso já ocorreu antes. Bauer, na gestão de Cristina Kirchner (2007-2015), foi diretor do sistema nacional de meios públicos, que coordena, entre outros veículos, a TV Pública. Foram tempos complicados, pois Bauer transformou a TV Pública em TV Kirchner. Dos desenhos animados aos programas jornalísticos, a pauta era toda pró-governo. Conhecida por produzir jornalismo e ficção de qualidade, tradicionalmente, o canal virou um instrumento de propaganda do governo. E de ataque frontal aos meios independentes.

Como tantas indicações de ministros do governo de Alberto Fernández, esse foi um nome escolhido por Cristina Kirchner. Resta saber se Tristán Bauer continuará em sua linha de promover e difundir uma cultura alinhada ao governo ou se, em vez disso, será um ministro de cultura para todos os argentinos