Cinco filmes para entender o Chile
Sylvia Colombo
Quer entender o que está rolando no Chile? Esses filmes não falam diretamente da atual inquietação social, mas ajudam a compreender a história e a cultura do país.
- “A Batalha do Chile” (Patricio Guzmán, 1975-1979) – Essa trilogia de documentários traz a visão privilegiada do cineasta que retratou os antecedentes da eleição de Salvador Allende, a tensão social e a polarização da sociedade no começo dos anos 1970, até culminar no golpe de Estado. Há passagens históricas, como o momento em que o câmera argentino Leonardo Henrichsen é morto enquanto grava o próprio tiro que o alvejou. Também existem cenas que lembram as de Santiago nos dias de hoje, ruas vazias, fumaça de gases, tanques e soldados avançando contra uma multidão. Guzmán também vai a encontros de trabalhadores, reuniões sindicais e paradas militares.
- “Violeta Se Fue a Los Cielos” (Andrés Wood, 2011) – Neste filme, temos a biografia da compositora, investigadora e cantora Violeta Parra (1917-1967), que recuperou a tradição oral e musical dos indígenas chilenos e a transformou em cultura popular, sendo reconhecida internacionalmente. De suas pesquisas nos Andes, pedindo que os músicos das comunidades tocassem e cantassem para que ela aprendesse, Parra viaja a Europa e a então União Soviética. Na volta, começa a organizar as “peñas”, centros comunitários de arte e de debate político que marcaram sua época. Frustrações amorosas e pessoais vão se acumulando, até que ela se suicida.
- “No” (Pablo Larraín, 2012) – O drama ficcionaliza a famosa “campanha do não”, que ocorreu em 1988, quando se deu um plebiscito que decidiria se os chilenos queriam que a ditadura de Pinochet continuasse ou não. Baseada em obra do escritor Antonio Skármeta, o filme é protagonizado pelo mexicano Gael García Bernal, que integra a equipe que faz a campanha publicitária para o “não” vença. O filme mostra como ele conseguiu armar uma estratégia que transformou uma mensagem com uma palavra negativa em algo festivo, alegre, enquanto a campanha do “sim” era burocrática e baseada em números e balanços da gestão. O “não” acabou vitorioso. O atual presidente chileno, Sebastián Piñera, diz ter votado, na época, pelo fim da ditadura.
- “Machuca” (Andrés Wood, 2004) – Durante o governo socialista de Salvador Allende, encerrado pelo golpe de Estado de 1973, havia um programa do governo que trazia indígenas de comunidades para estudar em Santiago. O filme mostra a relação do menino branco e burguês Gonzalo Infante e o humilde Pedro Machuca ,numa escola católica de Santiago. É uma oportunidade de ter um retrato da sociedade chilena que apoiou o golpe e, ao mesmo tempo, de entender a desigualdade social tão profunda do Chile, algo que não foi resolvido até hoje e que permeia as atuais manifestações.
- “Missing” (Costa-Gravas, 1982) – Esse clássico com Jack Lemmon e Sissy Spacek é baseado numa história real, a do jornalista norte-americano Charles Horman, que desapareceu logo após o golpe de 1973. Seu pai e sua mulher o buscam por todas as partes, mas nunca o encontram. O filme, que ganhou a Palma de Ouro em Cannes, foi banido no Chile até o fim da ditadura, em 1990.