Um ano da prisão de Requesens, outro abuso da ditadura de Maduro

Sabrina e Adriano, os dois filhos pequenos de Juan Requesens, 30, pensam que o pai está numa “missão especial”. Foi o único argumento encontrado pelos familiares para confortar as crianças, que de repente se viram, em casa, com uma nova situação: o vazio da ausência desse pai jovem, barbudo, falante e carinhoso.

Nascido em Caracas, Requesens é deputado pela Assembleia Nacional, pelo partido opositor Primero Justicia (do veterano Henrique Capriles), e representa Táchira, um dos Estados mais afetados pela repressão da ditadura venezuelana contra seus opositores nos últimos anos.

Junto a Stálin González, Juan Guaidó, Miguel Pizarro e outros, Requesens integra a chamada “Geração de 2007”, um grupo de jovens politizados anti-chavistas que logo entrariam de fato na política, com vontade de mudar o rumo da Venezuela.

Nesta quarta-feira (7), houve um ato em Caracas, convocado pelo presidente encarregado, Juan Guaidó, para homenagear Requesens e pedir sua libertação. A razão? O deputado está preso há um ano, sem acusação formal e sem ter iniciado um julgamento contra ele. Nesse período, tem sido vítima de torturas físicas e psicológicas.

Juan Requesens inflamado durante um discurso (Foto captura de tela)

As causas contra Requesens são muitas, porém delirantes. Tanto não há evidência que o julgamento sequer tem início. E o deputado, conhecido por seus inflamados discursos nas ruas e no parlamento, espera numa cela do temido presídio do Helicóide.

Entre os crimes pelos quais querem que responda estão: “instigação pública continuada”, “tentativa de homicídio contra Nicolás Maduro” (no episódio dos drones), “associação para delinquir”, “financiamento ao terrorismo” e, para finalizar, “traição à pátria”.

Embora ele, seus colegas de parlamento e sua família saibam que se trata de um julgamento político, sua defesa tenta construir uma causa de abuso de poder para que seja liberado o mais rápido possível. Seu advogado, Joel García, aponta várias irregularidades em sua prisão. São elas: violação de seu foro como parlamentar, invasão de sua casa para sequestrá-lo sem ordem de busca e captura (foi realizada por agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional), o prisioneiro foi mantido sem comunicação por mais de 72 horas e manifestou ter sido torturado.

Imagens de Requesens mais magro e machucado (foto divulgada pelo governo)

Além disso, Requesens ainda não foi acusado formalmente, o que implicaria na necessidade de libertá-lo depois de 72 horas, tempo já escandalosamente excedido. A arbitrariedade é clara, e assim, Requesens passou a integrar a cifra de 550 presos políticos (segundo a ONG Foro Penal).

À família, Requesens tem enviado palavras de coragem. “O pior não é estar preso, mas sim que a Venezuela esteja sequestrada”, segundo relatou sua mulher ao site Efecto Cocuyo. Seus parentes também contam que, nas poucas visitas que podem fazer, o encontram com sinais de tortura no corpo, e algumas vezes desorientado como quem sofreu também tortura psicológica.

O ministro da comunicação e um dos homens-fortes do regime, Jorge Rodríguez, divulgou um vídeo em que um alterado Requesens, com aspecto de quem estava sob forte pressão, admitia ter ajudado no atentado contra Maduro.

Segundo o advogado Joel García, o vídeo também mostra irregularidades em sua produção, pois não há a presença de membros da Procuradoria nem de um representante legal de Requesens.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos já emitiu solicitação ao governo venezuelano para que “se adotem medidas necessárias para proteger os direitos à saúde, à vida e à integridade pessoal do deputado”. Até agora, de nada adiantou.

Em seus discursos, Guaidó se refere a Requesens como a um irmão e um colega de luta, e não deixa de lembra-lo na maioria dos atos. Cada dia que passa é um dia mais de abuso aos direitos humanos deste deputado e dos outros 550 presos políticos do regime ditatorial de Maduro. Nos últimos tempos, as vítimas dessas prisões arbitrárias têm sido, justamente, as pessoas mais próximas a Guaidó, numa tentativa de “quebrar” o ânimo do líder opositor. Em entrevista recente à Folha, Guaidó disse: “Quem está no meu entorno já sabe que é um alvo e tem de se preparar. Ninguém está com medo. Requesens é quase um irmão para mim e está demonstrando o espírito de nossa luta”, afirmou.