Será o México o balão de oxigênio de que Maduro necessita?

Maduro, López Obrador (centro) e as respectivas mulheres (Foto Presidência do México), no DF

Que a declaração do Grupo de Lima, divulgada na sexta-feira (5), após encontro de chanceleres e representantes dos 14 países membros da aliança, condenaria o “novo mandato” do ditador Nicolás Maduro na Venezuela, que tem início no próximo dia 10, chamaria eleições livres e pediria que a Assembleia Nacional, de maioria opositora, retomasse suas funções era algo mais ou menos esperado. 

O que causou estranheza foi a recusa do México de assinar o documento, sendo o único dos integrantes da coalizão a ficar de fora. Questionado, horas depois, sobre a razão, o presidente recém-empossado, Andrés Manuel López Obrador, disse apenas que o México “não se meteria em assuntos internos de outros países”.

A questão da soberania é uma fronteira tênue que divide os países da região. A Bolívia e o Uruguai costumam justificar assim a razão de não fazer críticas mais duras à ditadura venezuelana. Porém, há matizes nessa questão. Nenhum país do Grupo de Lima, e isso também consta do documento assinado na sexta-feira, defende, pelo menos abertamente e por enquanto, uma intervenção militar na Venezuela. Essa proposta, inclusive, até daria mais fôlego à retórica do regime, que usaria o argumento da ameaça imperialista em seu discurso de propaganda, e com isso encontraria apoio popular para armar-se mais e provocar militarmente os vizinhos.

Porém, nos níveis diplomáticos, políticos e econômicos ainda há muito que pode ser feito para enfraquecer Maduro sem que isso possa ser definido como uma ameaça à soberania, e isso também consta do documento assinado na capital peruana.

Ficou, portanto, difícil de entender a posição do México. Durante o mandato de Enrique Peña Nieto (2012-2018), as críticas ao endurecimento do regime venezuelano foram duras. Já o esquerdista AMLO, como é chamado seu sucessor, parece ter decidido amenizar esse clima hostil. Chamou Maduro para sua posse, e recebeu de volta uma resposta pouco auspiciosa, Maduro foi vaiado por onde passou e teve de deixar às pressas a capital mexicana.

Se o México decidir alinhar-se às posições de Bolívia, Cuba e Nicarágua e não tomar ações para ajudar a pressionar Maduro, pode virar o balão de oxigênio tão esperado pelo ditador venezuelano, justo num momento em que este começa a ver parte do apoio interno de sua própria base de apoio, militar e civil, tremer. É hora de pressionar mais, não menos. E principalmente de não dar-lhe novos aliados, mais ainda se este for a segunda maior economia da América Latina.

Durante sua campanha, AMLO não falou muito de política externa. Mais, ainda declarou que “a melhor política externa é a política interna”. Seus pontos principais foram o ataque a corrupção, aos altos gastos administrativos e a proposta de criar uma guarda nacional para combater a violência no interior. Ou seja, uma pauta interna importante, mas que não deveria excluir a externa num mundo cada vez mais interconectado.

Com os EUA, AMLO mostrou que pretende ser pragmático. Assinado o novo tratado de livre comércio com seus dois vizinhos do norte, ainda não mostrou desacordos frontais com Donald Trump, inclusive aceitando os integrantes da caravana de imigrantes da América Central que os EUA devolveram a seu território. Com 80% de suas exportações tendo como destino o vizinho do norte, AMLO não tem outra opção que a de ser amigo dos EUA, embora muitos de seus eleitores tenham votado nele imaginando que ele confrontaria Trump, principalmente no que se refere ao polêmico pagamento do “muro”, que Trump quer construir na fronteira. A estes, AMLO por enquanto segue respondendo com a limitada frase: “menos política externa, mais política interna”.

Será uma pena e um retrocesso que o México abra mão de condenar e pressionar Maduro. A crise venezuelana gera instabilidade regional em diversos setores, da saúde à geopolítica, da economia à xenofobia. Pelo seu tamanho e por sua importância histórica nos destinos da região, o México não deveria ficar neutro no debate sobre o futuro da Venezuela, muito menos pender mais para o lado de um apoio a Maduro.