Juan Manuel Santos, de presidente a youtuber
É difícil deixar de ser presidente, aqui na América Latina sentimos isso de modo intenso. Há reeleições em vários países e, onde não há, tentativas de drible nas leis para que possam haver. Já conversei seriamente sobre isso com o analista Javier Corrales. Porém, se nenhuma das manobras der certo, restam as redes sociais e os vínculos com os meios de comunicação. O colombiano Álvaro Uribe (2002-2010) é o melhor exemplo disso. De onde esteja, emitirá uma opinião que não raro acaba virando a opinião popular de muitos, seja qual for a matéria. Outros ex-presidentes armam sua estratégia política desde a prisão, como o brasileiro Lula, ou de alguma forma, aqui e ali, dão pitacos no que está rolando, algo a que nem o celebrado uruguaio José “Pepe” Mujica está imune.
Este post trata-se de uma espécie de “balão de ensaio” sobre o que poderá ser o futuro de Juan Manuel Santos, 66, que deixa o poder no próximo dia 7 de agosto. Já é sabido que ele dará palestras e cursos eventuais em Harvard, que capitalizará seu Oscar da Paz viajando e falando de sua experiências pelo mundo, e também que cuidará de sua netinha recém-nascida.
Porém, na semana passada, os colombianos foram surpreendidos por uma aparição mais do que descontraída desse que foi um presidente sério e que poucas vezes fugiu do protocolo. Santos participou da experiência de ser um “youtuber”, a convite do jornalista Daniel Samper Ospina.
O vídeo, que o leitor avalie por si mesmo, é bem pouco “presidential”, para quem ainda, até então, não havia deixado o cargo. Ali ele aparece brincando de esconde-esconde com seus cachorros, cantando (“hola soy Santos, y gobierno como canto), cozinhando, maquiando-se, auto-referindo-se a si mesmo como “JuanMa”, como o chama a população _mas admitindo ter até mesmo um “alias” que só as Farc conhecem. Também atirou farpas ao ex-presidente Álvaro Uribe, que não deixou de incomodá-lo nem um dia de seu mandato, e também ao ditador venezuelano Nicolás Maduro, referindo-se a ele como uma banana madura “que não serve mais para nada”.
Tudo tinha um tom de total brincadeira. Mas o presidente, vaidoso como sempre, parece ter soltado o vídeo como balão de ensaio. Nas redes sociais, disse “Me convidaram a ser youtuber, mas acho que não é bem para mim, ou será que vocês opinam diferente?”. Ou seja, lançou aí um “plebiscito” informal que pode levar a região a ter um ex-presidente dando suas opiniões sobre o rumo do país por meio de vídeos cômicos. É a política se transformando…