Caça aos prefeitos no México

É ano eleitoral no México, onde se escolhe, no próximo dia 1 de julho, o próximo presidente pelos próximos seis anos. Entre as primeiras preocupações mostradas pelos mexicanos nas pesquisas estão a violência, que neste ano bateu recorde de homicídios, e a corrupção por parte de altos funcionários.

Muito já se falou da verdadeira caça aos jornalistas, que se tornou mais intensa no último sexênio de governo de Enrique Peña Nieto (PRI), e sobre o fato de não haver sequer um acusado por tantas mortes. Há poucos dias, os colegas de Javier Valdez, uma das vítimas mais famosas dessa perseguição, lembraram-se dele no aniversário de um ano de sua morte, ainda sem solução.

Agora, vêm surgindo com mais intensidade a série de assassinatos de prefeitos e ex-prefeitos, nos Estados mais pobres do país, como Oaxaca, Chiapas, Guerrero, e outros não tão humildes, mas também muito violentos como Morelos e Veracruz.

Os casos, assim como os dos jornalistas, são estarrecedores. Tivemos, em dezembro de 2017, a execução em plena rua do prefeito Jose Santos Hernández, que viajava em seu carro com sua família. O veículo foi fechado, e Hernández, obrigado a descer. Foi baleado no asfalto, com a estarrecida família olhando pelo vidro.

Outro caso que causou comoção foi o de Gisela Mota, de apenas 33 anos, que tinha acabado de ser eleita. Fez seu discurso de posse, voltou para casa, onde seus familiares seguiram em festa mesmo depois que ela, cansada, foi dormir.

No dia seguinte, pouco antas das 7am, a mãe de Gisela, a única acordada então, viu aterrada sete homens encapuzados e armados entrando na sala e perguntando por sua filha. Havia muitos parentes ainda dormindo. Gisela se levantou, disse que era ela. Os familiares foram levados para o pátio da casa. Ela, para a porta da frente, onde foi morta, com o corpo deixado ali como exemplo.

O assassinato de prefeitos de cidades pequenas de lugares disputados pelo tráfico não são incomuns no México. Sem muitos recursos do governo nacional, os prefeitos são levados a escolher um lado da disputa, no caso de seu município estar num local disputado por cartéis. Em outros casos, há financiamentos de campanha eleitoral com dinheiro ilícito por parte do cartel que opera no local. Noutros, ainda, pura extorsão realizada pelos criminosos, tanto dos moradores como das autoridades locais.

Lembro-me de ter conhecido um candidato a prefeito, na eleição anterior, no Estado de Guerrero. Ele havia chamado a milícia de cidadãos local, os chamados “autodefensas”, e reunido todo mundo num ginásio e distribuído lanches e refrigerantes. Pediu claramente ajuda para se resguardar dos cartéis, que vinham ameaçando aquele vilarejo.

Depois da reunião, eu o abordei, e perguntei se não achava aquilo muito pouco institucional. pouco ético aquela reunião. Ele me respondeu com a mais crua realidade. “O que não é ético é ver esse derramamento de sangue que não para, que é fruto da briga de bandidos, e que mata tanto o prefeito como o cidadão comum.” Por melhor que fossem suas intenções _afinal, ele estava escolhendo a proteção de uma milícia civil, uma chamada “política comunitária” e não a de um cartel_ mesmo assim é difícil achar que essa é uma solução para o interior do México.

Segundo a Associação Nacional de Prefeitos do país, entre 2010 e 2017, 42 prefeitos foram mortos no Méximo. Contando desde 2008, são 82.

Por outro lado, é difícil imaginar que um presidente sozinho, ali na solidão de Los Pinos, na Cidade do México, tenha como conhecer todas as ligações, alianças, tratados feitos entre cartéis, ou entre cartéis e autoridades regionais e agir sobre elas.

Tentativas foram feitas, o próprio Peña Nieto (PRI) fez uma opção de ligar-se à milícia cidadã em Michoacán para tentar influir mais nas intrigas locais, mas sem grandes resultados. Felipe Calderón (PAN) usou a força pela força e causou dezenas de milhares de mortos.

A única solução, tanto para as matanças de civis como de jornalistas e prefeitos, é uma presença mais contundente do Estado, não só no que diz respeito à segurança pública, mas também de suas instituições, da Justiça, de Tribunais Eleitorais vigilantes, de garantias à liberdade de expressão em todo o país.

Pode-se esperar isso desta eleição e do próximo presidente?