Morre Abreu, mestre de Dudamel e das orquestras infantis da Venezuela
Quando parece não mais ser possível virem notícias ruins da Venezuela, nos topamos com esta, tristíssima. Morreu, em Caracas, aos 78, José Antonio Abreu, criador do Sistema Nacional de Orquestras e Coros Juvenis do país _também conhecido como El Sistema.
Dali saíram algumas figuras para o estrelato, como Gustavo Dudamel, hoje diretor da Filarmônica de Los Angeles, mas também heróis solitários, como Wuilly Artega, um jovem violinista de 23 anos, de classe média baixa, que durante as manifestações contra a votação da Assembleia Constituinte, no ano passado, saiu em meio a trocas de balas de borracha e de coquetéis molotov a tocar o hino da Venezuela ininterruptamente. Foi preso, torturado, e acabou tendo de sair do país.
Mas a orquesta de Abreu não tinha nada de política, pelo menos não diretamente, e nasceu muito antes do chavismo, em 1975, quando Abreu decidiu criar um espaço que não fosse apenas de educação musical, mas também de integração social, no qual jovens de distintas camadas pudessem aprender um instrumento, e assim também um ofício, além de socializarem-se. El Sistema recebeu vários prêmios, entre eles o da Unesco, Abreu, o prestigioso Príncipe de Asturias, e ainda foi cogitado para o Nobel da Paz. Mas seu principal orgulho, além do êxito de seus meninos, foi sempre o fato de que sua experiência vinha sendo imitada já em mais de 20 países.
Dudamel se despediu postando uma foto com Abreu e a frase: “Com todo meu amor e eterna gratidão a nosso pai e criador do Sistema”.
De família de classe média, Abreu nasceu em Valera, no Estado de Trujillo, e estudou música desde pequeno, especialmente piano, órgão e cravo. Quando se mudou a Caracas, teve a ideia de criar a orquestra, mas esta não foi uma tarefa fácil. Logo de início, tinha apenas 11 estudantes. Perseverante, fez com que o projeto crescesse, angariou fundos, e por fim conseguiu apoio do Estado. Logo estava levando seus meninos para se apresentar nos EUA e na Europa.
Hoje, o Sistema tem nada menos que 900 mil estudantes, divididos em 1.681 orquestras juvenis ou infantis, 1.389 coros e 1.983 grupos de iniciação musical, que estudam e executam obras do repertório clássico e popular. Infelizmente, ficou órfão. Trata-se de um tesouro cultural da Venezuela, e esperamos que alguém tome conta dele, para que sobreviva à terrível crise pela qual passa esse fantástico país.
Foi assim que alunos e ex-alunos de Abreu se despediram dele neste fim de semana: