Sara Facio, da explosão de alegria ao luto de uma nação

Sylvia Colombo
Fotografia de Sara Facio, em exposição no Malba (Foto Divulgação)

Sara Facio não é peronista, e foi uma das primeiras coisas que afirmou quando, na semana passada, deu uma palestra no Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires para inaugurar a mostra “Sara Facio – Perón”, em cartaz neste espaço até 30 de julho (www.malba.org.ar). “Quando ia tirando essas fotos, meu foco esteve sempre nas pessoas, e no período que a mostra abarca, pode-se perceber como o encanto e a alegria que se sentiu na Argentina com a volta de Perón foram se transformando em outros sentimentos, de luto, de violência. Mas não quis nunca tirar o foco da reação daqueles homens e mulheres”, disse Facio, 85.

Uma das mais importantes fotógrafas do país _célebre também por ter retratado autores como Julio Cortázar, Gabriel García Márquez, Jorge Luis Borges e Carlos Fuentes e por ter sua obra exibida em instituições como o Museu de Arte Moderno de Nova York (MoMA) e o Museo Reina Sofía de Madrid_ terá nestes meses seu trabalho mais essencialmente argentino exposto na capital do país.

Outra das imagens de Sara Facio que estão em exibição na mostra (Foto Divulgação)

A exposição cobre os 591 dias que vão desde o regresso do general Juan Domingo Perón de seu exílio na Espanha, no final de 1972, até sua morte, em 1 de julho de 1974. Muitas dessas imagens Facio tomou como jornalista, pois trabalhava como correspondente da agência francesa Sipa.

Porém, outras tantas foram tomadas por puro impulso, quando via que havia manifestações que valia a pena cobrir, como episódios da campanha de Héctor Cámpora (o peronista que abriria espaço para o retorno de Perón à Presidência) e a própria morte do general, já no cargo. As imagens desta última leva são tocantes. Com sua Leica, Facio pôs foco nos rostos tristes, nas pessoas lendo os jornais no dia seguinte que, com as manchetes garrafais anunciavam a morte do líder, os jovens caminhando meio sem rumo pelas ruas de Buenos Aires, abraçados a bandeiras.

A ordem da mostra segue a cronologia dos fatos, a expectativa pela chegada de Perón _que se transformaria num massacre com 13 mortos e mais de 200 feridos em Ezeiza com o enfrentamento de grupos peronistas inimigos_ multidões se juntando em lugares simbólicos da cidade para festejar seu retorno, como a praça do Congresso e a praça de Maio, a campanha e a vitória de Cámpora, os tantos cartazes que se criaram com as imagens do general, de Evita e de tudo o que hoje ainda compõe o imaginário peronista, até a tomada de posse de Perón, seu curto período no governo e sua morte.

“Guardei isso por muito tempo porque tinha medo de que tivessem um uso político quando fossem mostradas”, conta Facio. Agora, passado tanto tempo, e exibidas num museu de arte, as fotos, sem perder o valor histórico, têm ressaltado seu aspecto artístico. A curadoria é de Ataúlfo Pérez Aznar.