Morre Federico Luppi, um dos gigantes do cinema argentino

Sylvia Colombo
O ator Federico Luppi, morto nesta sexta-feira (Foto Clarín)

Banalizou-se por aí uma frase meio difícil de engolir: “Ah, mas o cinema argentino só tem filme com o Ricardo Darín”. Não demonstra apenas desconhecimento com relação à cinematografia do país-vizinho, mas também ignora a imensa projeção nacional e internacional de grandes atores que vieram antes dele.

Um deles morreu nesta sexta-feira (20), em Buenos Aires, aos 81 anos.

Nascido em Ramallo, na Provincia de Buenos Aires, Luppi alcançou rápido o sucesso na Argentina. Pouco antes da crise política e econômica de 2001, radicou-se na Espanha. Sua vida, a partir de então, ficaria dividida entre os dois países, onde realizou filmes e participou em obras de teatro.

Ao todo, foram mais de 70 películas. As mais importantes foram as conduzidos por Adolfo Aristarain, “Tiempo de Revancha” (1981), “Lugares Comunes” (2002) e Martín Hache” (1997). Foram os filmes em que melhor expôs suas características de ator dramático, seu tom melancólico por trás de falas e personagens muitas vezes duros e de opiniões bem marcadas.

O meu filme favorito com ele no elenco é “Caballos Salvajes”, uma mistura de thriller com road trip movie, do hoje desaparecido Marcelo Piñeyro, que ainda contava com Leonardo Sbaraglia e Hector Alterio no elenco. Mas é preciso incluir também entre seus melhores o noir “Nadie Hablará de Nosotras Cuando Hayamos Muerto”, dirigido por Agustín Días Yanes e vencedor de oito prêmios Goya.

Para um público mais internacional, Luppi ficou conhecido por participar dos filmes de fantasia do mexicano Guillermo del Toro, como “El Laberinto del Fauno” (2006).

Luppi retornou a Buenos Aires de modo definitivo nos últimos anos. Havia sido um defensor do kirchnerismo e, por conta disso, comprou briga até mesmo com… Ricardo Darín, que havia feito comentários sobre o suspeito enriquecimento da então presidente Cristina Kirchner.

Seus últimos anos foram difíceis. Com a idade, os papéis foram escasseando e as dívidas, aumentando. Em entrevistas, dizia que vinha aceitando alguns trabalhos que em outros tempos, não teria feito. Mas, pelo menos, teve tempo de deixar sua marca num grande filme argentino recente, “Nieve Negra”, que pode ser visto pelo Netflix.