Livros para entender o terremoto no México de 1985

Sylvia Colombo

Depois de 19 de setembro de 1985, vários livros de ficção e não-ficção fizeram o esforço de refletir sobre a tragédia que ocorreu naquele dia, quando um terremoto de 8 pontos deixou entre 5 mil e 30 mil mortos (nunca houve uma estimativa mais acurada) e mais de 800 edifícios da capital mexicana vieram ao chão. O país estava a meses de receber uma Copa do Mundo, e a cidade, despreparada para uma tragédia assim. Desde então, como contam vários especialistas, desenvolveu-se no país uma “cultura de terremoto”, em que os habitantes eram instruídos com frequência sobre como responder a um evento dessa magnitude e os prédios passaram a ser construídos com outra estrutura, mais resistente. Talvez essa seja uma das razões pelas quais a cifra de mortos, pelo menos por enquanto, não esteja perto da cifra da tragédia de três décadas atrás.

Terremoto de 1985, pessoas fogem enquanto edifícios desabam (Foto El Universal)

Seguem as recomendações de leitura.

“Nada, Nadie: Las Voces del Temblor”, Elena Poniatowska (ed. Era, importado)

Como já havia feito antes em seu memorável livro “La Noche de Tlatelolco”, a escritora e jornalista franco-mexicana sai a recolher relatos. Na obra, sobressaem não só as dramáticas histórias humanas, mas o registro em tempo real da reação da sociedade, que saiu às ruas a solidarizar-se e a ajudar nas tarefas de resgate.

“No Sin Nosotros – Los Días del Terremoto”, Carlos Monsiváis (ed. Era, importado)

O livro é uma mescla de ensaio e de experiência pessoal, dividido em duas partes. Numa delas, Monsiváis (1938-2010), um dos mais importantes escritores mexicanos desde o Nobel Octavio Paz, conta a partir de seu ponto de vista como foram o dia do terremoto e os que se seguiram. Noutra, reflete sobre a sociedade civil mexicana e outros momentos nos quais foi chamada a mobilizar-se, e em como esta se transformou nos anos seguintes à tragédia.

 

“Zona de Desastre”, Cristina Pacheco (ed. Oceano, importado)

A jornalista Cristina Pacheco, na linha de Poniatowska, também baseia seu livro em relatos, mas com um propósito claro, o de mostrar que o terremoto expôs um problema social que “todos sabiam que existia, mas que ninguém queria ver”, ou seja, que grande parte da população da megalópole vivia em condições precárias de habitação, saneamento e sem acesso à orientação sobre como atuar em situações como essa. Pacheco foi casada com o poeta José Emilio Pacheco (1939-2014).

“Arte y Olvido del Terremoto”, Ignacio Padilla (ed. Almadía, importado)

Morto de modo prematuro no ano passado, Ignacio Padilla (1968 – 2016), um dos principais nomes da nova literatura mexicana, reflete sobre o silêncio dos intelectuais com relação à tragédia. Neste ensaio, tenta entender porque não surgiu a partir do terremoto de 1985 uma “arte dos terremotos” e se tão pouco sobre a influência da tragédia na mudança psicológica da sociedade. Conclui considerando que intelectuais tinham uma dívida pendente com a memória coletiva do país ao não tratar do fato o suficiente e a suas diferentes sequelas

“Ciudad Quebrada “,  Humberto Musacchio (ed. Brigada para Leer en Libertad, importado)

O jornalista faz uma crônica dos dias do sismo, contextualizando o momento em que o país vivia do ponto de vista político. Como se sabe, o então presidente, que era do PRI, Miguel de La Madrid, foi muito questionado em sua atuação branda, sua demora em reagir e sua tentativa de maquiar os números oficiais para baixo. Para Musacchio, a catástrofe serviu para despertar um novo tipo de consciência política no país.