Nicanor Parra, quase 103, ativo na poesia e na vida
Corrija-me o Guinness se estiver errada, mas Nicanor Parra deve ser o mais velho poeta de renome internacional ainda ativo a poucos meses de completar… 103 anos. Nesses dias, aqui no Chile, a notícia mais destacada nos suplementos culturais era o lançamento de uma nova coletânea reunindo o melhor da vasta obra deste que foi o ganhador do prêmio Cervantes de 2011 e é um dos mais destacados artistas do chamado Clã Parra.
Vários membros da família dedicaram-se ou ainda se dedicam às artes _a cantora e compositora Violeta Parra (1917-1967) era sua irmã.
O título da obra se chama, sugestivamente, “El Último Apaga la Luz” (Lumen, importado), organizado por Matías Rivas, e tem mais de 400 páginas. Está longe de ser um volume de obras completas, mas sim uma seleção feita a partir de temas recorrentes da obra do escritor: a política, o sexo, a morte, a religião, entre outros.
Além do lançamento no Chile, o livro também desembarca, nas próximas semanas, na Espanha, na Argentina, no México e no Peru.
Além da obra selecionada, o volume também incorpora alguns textos inéditos, poemas e artigos dispersos publicados em revistas e que ainda não tinham sido editados em livro. Também inclui discursos que deu quando homenageado.
Há mais de 30 anos, Parra vive longe da capital chilena, perto do mar, em Las Cruces, próximo a Valparaíso, mas não deixa de viajar a alguns festivais e homenagens. Caminha quase todos os dias na praia, como parte de um calmo e repetitivo cotidiano, que inclui ainda algumas horas dedicadas à escritura.
Também matemático e físico, Parra estudou na Inglaterra, viajou muito, mas não abandonou o Chile durante o regime militar (1973-1990), apostando numa carreira universitária.
Nos últimos tempos, sua obra vem sido relida por novas gerações de autores latino-americanos, e foi referência para o também chileno Roberto Bolaño (1953-2003), hoje escritor de culto para os jovens aspirantes a escritores no continente.
Neste país em que dois poetas já foram agraciados com o Nobel de literatura _Pablo Neruda e Gabriela Mistral_, a obra de Parra pode não ser a primeira a ser lembrada quando se fala em poesia chilena. Mas deveria. Incansável, o autor não para de trabalhar e demonstrar isso.