Bogotá recebe Naipaul, Coetzee e homenageia Dylan
Num país em que o número de títulos publicados vêm subindo em média 3% a cada ano, segundo a Cámara Colombiana del Libro, um evento como a Feria del Libro de Bogotá (Filbo) está longe de ser desprezível. Até porque, nos últimos anos, as fusões das grandes editoras espanholas obrigaram a uma reestruturação das mesmas na América Latina. Foram fechados escritórios em capitais como Lima ou Quito e reforçados os de Buenos Aires e Bogotá.
É com esse vento a favor que abrem-se nesta terça-feira (25) as portas do Corferias, imenso pavilhão que abriga anualmente o evento, que em suas duas semanas de programação recebe cerca de 800 mil visitantes. Esta será a trigésima edição do evento, o que motivará também uma programação paralela de comemoração da efeméride.
Entre os convidados de destaque deste ano estão os prêmios Nobel J.M. Coetzee (África do Sul), que daqui faz as malas para estar presente na sequência na feira de Buenos Aires, e V.S.Naipaul (Trinidad Tobago e Reino Unido), que não costuma ser figurinha fácil de eventos literários.
Coetzee lança livro novo, “Los Días de Jesús en la Escuela”, romance que se passa na África do Sul e que questiona os sistemas de educação e a Justiça do país.
O convidado de honra _que já foi o Brasil numa ocasião e, em outra, a cidade imaginária de Macondo_ é desta vez a França. Em vez de nomes consagrados, porém, o festival preferiu trazer autores mais relacionados à literatura juvenil e aos comics. Entre os de leitura para adultos, os destaques são Pierre Lemaître (Prêmio Goncourt, 2013) e Patrick Deville, que entrevistei recentemente para a Ilustrada, sobre seu romance que investiga os últimos tempos de Trótski no México. Serão inevitáveis os debates sobre o destino político francês depois do segundo turno eleitoral, em maio.
O que promete ser um dos hits da feira é o livro editado pela Intermedio que reúne a correspondência do escritor Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944) e sua mãe, Marie, que reúne 190 cartas e atravessa praticamente toda a vida do autor de “O Pequeno Príncipe”.
A Filbo ainda fará amarrações entre a literatura, o cinema e a música popular, homenageando o Nobel Bob Dylan assim como a compositora e folclorista chilena Violeta Parra (1917-1967). Também será lembrado o multi-artista local Andrés Caicedo, figura de culto colombiana, que há 40 anos lançava “Que Viva La Música”. De trajetória meteórica, Caicedo fez cinema, literatura e poesia que evocavam a vida na cidade de Cali, onde nasceu. Sempre repetia que a vida deixaria de fazer sentido aos 25 anos. Quando chegou a essa idade, de fato, se suicidou, logo após receber a primeira cópia impressa de seu romance, hoje reverenciado pelas novas gerações.