Argentinas protestam pela liberdade de mostrar os seios
A moda do verão argentino neste 2017 não é uma nova música, roupa ou bebida, mas sim os “tetazos”, manifestações em favor de que se possa fazer “top less” nas praias, que vêm ocorrendo em várias cidades litorâneas e terá seu ápice nesta terça (7), em Buenos Aires, quando um coletivo feminista promete um “tetazo” na frente do Obelisco, principal monumento no centro da capital do país.
Os “tetazos” _caminhadas ou simples agrupamento de mulheres sem a parte de cima dos biquínis_ já ocorreram em diversas praias e tiveram início como um protesto contra a polícia do balneário de Necochea, que, há duas semanas, exigiu que três mulheres cobrissem seus corpos porque sua exibição se tratava de uma contravenção e que alguns frequentadores da praia se diziam “assediados” pelo gesto das moças.
Os 20 policiais, que chegaram em 6 carros de patrulha, num operativo bastante exagerado, acudiram ao chamado de outros frequentadores da praia, que ligaram para a polícia quando viram as mulheres com os seios à mostra.
Uma discussão entre a polícia e as mulheres foi gravada de diversos ângulos por aparelhos celulares e se disseminaram na internet. No vídeo (abaixo), os policiais se mostram um pouco consternados, a maioria se diz compreensiva, mas praticamente implora para que as mulheres se cubram ou saiam dali, “para não incomodar as pessoas ou causar mais distúrbio”.
Entre as que reclamavam do “top less”, estavam mulheres que diziam: “nossos filhos não têm de ver isso”, e homens que chamavam as moças de adjetivos mais ofensivos.
As três mulheres, apoiadas por amigos que as acompanhavam, diziam que “estavam num lugar público” e que “assédio é quando um homem mostra sua genitália para nós no meio da rua”. Ao final, decidem ir embora. Não sem gritar: “Para a alegria dos tetofóbicos, nos vamos. Viva a praia fascista!”, e saíram sob aplausos.
Irupé Longfellow, uma das organizadoras do “tetazo” no Obelisco, disse à Folha que “na Argentina a censura ao corpo feminino ainda é muito forte. Quando não se trata de vender a imagem da mulher desejada, da mulher-objeto, ele é reprimido”, e menciona os comentários das redes sociais que diziam que as mulheres do episódio em Necochea “ainda por cima eram feias, e tinham os peitos caídos”.
Irupé completa: “ou seja, quando o corpo não é perfeito e não é para o consumo masculino, há repressão. Só que nenhuma mulher faz top less para correr atrás dos homens, não se pode chamar isso de assédio”, conclui.
A discussão foi parar nas cortes. Um juiz de Necochea, porém, arquivou o assunto dizendo que a atitude das três mulheres “carecem de relevância contravencional e não se enquadram na lei que proíbe atos obscenos em público”. O juiz ainda orientou que a polícia de Necochea deixe de intervir em episódios como este.
A decisão do juiz foi uma boa notícia para as manifestantes, mas o movimento seguiu mesmo depois dela. As mulheres que protestam querem um reconhecimento nacional da causa. No último fim de semana, houve “tetazo” num balneário de Corrientes e a convocatória para o de amanhã, no Obelisco, segue arregimentando gente.
Parece incrível, e triste, que esse seja um tema polêmico em pleno século 21.