AMLO e a Revolução dos Bichos
Se a gente não explica o que é, ou quem é, AMLO, fora do México, as pessoas correm o risco de pensar que se trata de um plano de saúde, uma seguradora, ou mesmo de um remédio. Mas… dentro do México, é uma sigla política que define um dos políticos contemporâneos mais longevos _folclóricos para uns, heróico para outros. Trata-se de Andrés Manuel López Obrador, 62, já foi prefeito da Cidade do México (ou DF, para os locais), líder do esquerdista Partido da Revolução Democrática (PRD), candidato presidencial duas vezes (2006 e 2012) e prestes a se postular mais uma vez, em 2018, agora com seu novo partido, o Morena (Movimento de Regeneração Nacional).
Na verdade, AMLO nunca deixou de estar atuante e de fazer barulho. Na primeira vez em que foi derrotado, em 2006, pelo conservador Felipe Calderón (PAN), por uma margem ínfima de votos (0.56%), não se conformou. Armou protestos de rua, bloqueou a principal avenida da capital (o Paseo de la Reforma) e montou acampamento no Zócalo _principal praça da cidade. Em 2012, em eleição que cobri para a Folha, ameaçou fazer o mesmo. Como no México não há segundo turno, os vencedores ganham com maiorias simples, porém frágeis. Desta vez, AMLO perdeu para o representante do PRI (Enrique Peña Nieto), por cerca de 6%, e quase armou o mesmo circo. Pediu recontagem de votos, começou a fazer barulho, mas em seguida aceitou o resultado.
O que não quer dizer que tenha ficado quieto nesse meio tempo. Criticou todos os passos de Peña Nieto até agora e armou encrencas com seu próprio partido, o PRD, construindo a partir daí a dissidência Morena.
Pois, bem a seu estilo espontâneo e algo estridente, AMLO voltou à carga nesta semana, aproveitando o escorregão de Peña Nieto ao convidar Donald Trump _que vem e segue insultando os mexicanos_ para uma visita oficial ao país. Peña Nieto foi tão criticado por isso que nem mesmo seus apoiadores o têm bancado, tanto que ministros e funcionários próximos têm caído.
Um amigo, crítico literário mordaz, disse que esse foi o pior erro cometido na história do México desde a ideia de trazerem o imperador Maximiliano, um Habsburgo, para governar o país no século 19, mas essa é uma outra história.
O fato é que AMLO vem aproveitando o momento de baixa estima e reputação de Peña Nieto para aparecer, critica-lo e, agora, lançando um spot divertido e oportuno, em que anuncia que uma “Revolução dos Bichos” vai ocorrer, citando o clássico de George Orwell, de 1945, uma alegoria crítica da revolução socialista que acaba transformada num sistema totalitário. O ataque foi direcionado diretamente ao coração do PRI, partido que mantém a bandeira da Revolução Mexicana de 1910, e a Peña Nieto, seu atual comandante. Agora, diz AMLO, a revolução será pacífica, tira um lenço branco do bolso, e trará o fim da corrupção e mais segurança aos mexicanos.
Se a provocação foi eficiente ou não, é cedo para saber. Mas o certo é que a sucessão presidencial mexicana, que vinha apenas esquentando os motores, se acirrou com a trapalhada de Peña Nieto chamando Trump para um cafezinho.
Portanto, os principais postulantes ao cargo _no México não há reeleição_ já estão se apresentando. AMLO, o persistente, tentará mais uma vez, e lidera as pesquisas segundo a mais recente, do jornal “El Financiero”. O conservador PAN precisa definir seu candidato, mas está cada vez mais propenso a apostar em Margarita Zavala, mulher do ex-presidente Felipe Calderón, principalmente, segundo apostam os analistas, se Hillary Clinton sai vitoriosa nos EUA _porque ela pegaria carona nesse exemplo. Enquanto isso, o PRI, desesperadamente, busca o menos queimado dos ministros de Peña Nieto. No momento, pende para Miguel Ángel Osorio Chong, responsável pela pasta de Interior.