Os tropeços do casal presidencial do México

Sylvia Colombo
Enrique Peña Nieto e a mulher, Angélica Rivera (Foto AP)
Enrique Peña Nieto e a mulher, Angélica Rivera (Foto AP)

No espaço de poucas semanas, dois novos tropeços do casal presidencial mexicano deram à população ainda mais certeza da distância que ambos mantêm do México real _tanto de seus sucessos como de seus graves problemas.

Primeiro, foi a vez dela. Reportagem do diário britânico “The Guardian” do começo de agosto mostrou que a primeira-dama Angélica Rivera, que viaja com frequência aos EUA para fazer compras, tinha se hospedado numa dessas ocasiões num luxuoso apartamento de Miami que pertence a um grupo empresarial que costuma vencer licitações do governo. Parecia repeteco de escândalos anteriores, como o da Casa Branca, quando se soube que Rivera tinha comprado uma casa caríssima por um valor muito mais baixo, de outro megaempresário mexicano, não por acaso vencedor de vários concursos para obras do governo. Na época, Rivera gravou um vídeo explicando que tinha recursos para comprar tal imóvel e gastar a fortuna que custou a reforma, devido à sua “exitosa carreira como atriz”. A imprensa fez as contas, e nem em sonho o que Rivera ganhava como atriz de telenovelas de segunda linha alcançava para os gastos.

Depois, veio a vez dele. A jornalista Carmen Aristégui, uma das mais importantes do México e que tem um programa na CNN, além de atuar na rádio e TV locais, revelou na semana passada que o presidente Enrique Peña Nieto tinha plagiado pelo menos um terço de sua tese de mestrado em administração de empresas. A resposta veio por meio de seu porta-voz, e dizia que a tese, de fato, continha “citações sem usar aspas” e “falta de referência a autores”, mas que ambas as “falhas” eram “erros de estilo”.

 

Ficou chato, porque a ideia de que o presidente mente não se atém a fatos de seu passado pessoal, como esse. Esteve exposta recentemente, por exemplo, quando o grupo de peritos internacionais chamados para investigar o que houve com os 43 estudantes desaparecidos em Ayotzinapa simplesmente desconstruiu completamente a versão oficial que o governo tinha oferecido sobre os fatos.

O México vem bem economicamente no cenário da América Latina. Está entre os poucos países com crescimento sustentado do PIB durante os últimos cinco anos e tendo construído polos industriais de ponta, trazido investimentos de empresas estrangeiras e atraído gigantes do mundo automotriz para fabricarem seus carros no país.

A questão é que isso convence pouco a população, pois as políticas de distribuição de renda não passam essa sensação de sucesso à população. Hoje, mais de 55 milhões de mexicanos vivem em situação de pobreza e a violência relacionada ao narcotráfico, que tinha caído no começo de sua gestão, voltou a subir. Do ano passado para cá, o nível de homicídios cresceu 16% e, segundo relatórios de ONGs que trabalham com o tema da violência, hoje se mata mais em Estados como Guerrero e Michoacán do que em países que estão de fato em guerra, como o Iraque.

Também do ano passado para cá, vêm surgindo insatisfações setoriais, como a dos professores, que reclamam de uma reforma educativa desenhada pelo governo. Em si, a ideia não é má, pois prevê avaliar os professores por um método nacional. Os professores não gostaram, por não terem sido consultados e por haver muita discrepância entre os departamentos. Nada que não pudesse ser resolvido com um diálogo político. O problema é que o governo respondeu de modo violento os primeiros protestos realizados pela categoria. E, depois dos 9 mortos em um confronto em Oaxaca, por melhor que possa ser a reforma, já conta com a antipatia de todos.

A dois anos da próxima eleição, Peña Nieto conta com 25% de popularidade, quando no ano passado tinha 42%. A degradação de sua imagem ocorre demasiado rápido, e o PRI busca estancar o problema enquanto inventa um sucessor popular que possa tomar o bastão em 2018 (no México, não há reeleição). Enquanto isso, o conservador PAN já se arma para próxima disputa, e a esquerda, por ora, vem dividida entre o que restou do PRD e a ainda grande popularidade de AMLO, Antonio Manuel Lopez Obrador, que agora tem seu próprio partido.