Festival de Literatura de Buenos Aires aumenta e se internacionaliza
Com ou sem crise, o calendário de eventos literários de Buenos Aires não se abala. “Existe um núcleo duro de leitores e frequentadores desses encontros, e com essas pessoas nós sempre contamos. Agora, o nosso desafio é ampliar esse público”, diz à Folha Gabriela Adamo, à frente da próxima festa.
Trata-se da oitava edição do Filba (Festival Internacional de Literatura de Buenos Aires), que ocorre entre 28 de setembro e 2 de outubro na capital argentina. Neste ano, o evento contará com 20 autores internacionais e 50 argentinos. Entre os destaques estão o mexicano Mario Bellatin, o colombiano Hector Abad Faciolince, o brasileiro Bernardo Carvalho e o escocês Irvine Welsh, uma das estrelas da mais recente Flip (Festa Literária Internacional de Paraty).
Uma semana antes, o evento ocorre em Montevidéu, entre 23 e 26 de setembro. Uma pena que, desta vez, o Filba perdeu sua base em Santiago, por conta dos custos. A parte boa foi que, ao longo do ano, viajou pelo interior da Argentina, levando reduzidas versões do encontro a outras cidades.
A ideia, em parceria com a livraria Eterna Cadência, começou a tomar corpo quando as feiras literárias em geral, na Argentina especialmente, começaram a parecer demasiado gigantescas e tomadas pelas grandes editoras com suas sucursais no país. Embalado pelo crescimento das editoras pequenas e independentes, o Filba foi ganhando corpo como um festival de elenco mais sofisticado, para público menor e não tão interessado em vender livros como nas grandes feiras.
Hoje, o festival ocorre em duas sedes charmosas de Buenos Aires, o Malba – Museo de Arte Latinoamericano (av. Figueroa Alcorta, 3415) e a recém reinaugurada Abadía (rua Gorostiaga, 1908). O tema será o corpo e suas diversas manifestações, em quem escreve, em quem lê, nos temas dos enredos.
O fenômeno da literatura independente, tanto em sua faceta editorial como na dos festivais, ganhou corpo principalmente nos anos kirchneristas, quando o governo implementou várias travas à importação em geral, o que afetou diretamente os livros. Entre outras coisas, essa foi uma das razões para que escritores, editores e organizadores de eventos buscassem modelos mais artesanais, de menor custo, e privilegiando material produzido dentro do país. Agora que o novo governo derrubou essas travas, muitas editoras pequenas estão com medo da competição dos grandes selos, que devem voltar a ver a Argentina como o grande mercado leitor que sempre foi.
“Sou contra esse discurso derrotista, que vê a liberação das importações como algo negativo. Vamos ter de competir? Sim, é verdade, mas quem disse que não podemos melhorar com isso? Além disso, Buenos Aires sempre teve a tradição de ser uma cidade onde era possível encontrar qualquer tipo de livro e em qualquer língua. Portanto, vejo com bons olhos que as travas à importação tenham caído”, conclui Adamo.