Em Lima, Le Clézio comenta atentado em sua Nice

Sylvia Colombo
O Nobel Le Clézio, em Lima (Foto Reuters)
O Nobel Le Clézio, em Lima (Foto El Universal)

O Prêmio Nobel de Literatura Jean-Marie Gustave Le Clézio, 76, esperava passar uma temporada mais tranquila em Lima, no Peru, reconectando-se com algumas de suas leituras de formação, como o universo de José María Arguedas (1911-1969), o de Mario Vargas Llosa e o da tradição indigenista.

Foi pego de surpresa, porém, na noite de quinta (14) ao saber do atentado que vitimou mais de 80 pessoas em sua cidade-natal, Nice, ao sul da França, onde tem familiares e amigos, entre eles uma de suas três filhas, com quem tentou se comunicar através de toda a madrugada, e apenas sossegou após saber que ela estava bem.

Com isso, sua participação na Feria Internacional del Libro de Lima acabou não sendo apenas literária. O autor fez duras críticas ao ataque e cobrou reações da sociedade e do governo, não apenas da França. “Trata-se de algo terrível, algo que não tem nada a ver com a humanidade, é bárbaro, é inaceitável”, declarou.

Questionado sobre a razão dos seguidos ataques à França, Le Clézio disse não se tratar de um problema apenas de seu país. “Temos de lutar juntos, todos os seres humanos, não apenas os franceses, mas também os colombianos, os peruanos, os chineses, todos contra essa violência.”

Seguindo um discurso que já havia feito no Congresso da Língua Hispânica, em Porto Rico, no primeiro semestre, Le Clézio falou em espanhol, explicando o sotaque “chilango” (mexicano da capital do país), que aprendeu nas ruas do chamado DF, quando era adolescente. Disse, então, que o Peru sempre havia chamado sua atenção, pela mistura da tradição indigenista com a modernidade literária, e que a leitura da obra de José María Arguedas (autor de “Os Rios Profundos) era o melhor exemplo dessa mescla.

Em sua intervenção, ainda acrescentou: “É sempre muito comovedor estar no Peru porque é um dos poucos países do mundo em que se pode sentir o vínculo forte entre passado e presente. Há poucos países que expressam dessa maneira essa relação, e não digo isso apenas pela quantidade de museus que existem no país, mas também porque se sente, na vida cotidiana, a presença muito forte do passado. Isso é uma riqueza”, afirmou.