PPK pop

Sylvia Colombo
O presidente eleito do Peru, Pedro Pablo Kuczynski (Foto El Comércio)
O presidente eleito do Peru, Pedro Pablo Kuczynski (Foto El Comércio)

Pedro Pablo Kuczynski venceu as eleições peruanas aos trancos e barrancos. Sua improvável e surpreendente virada no segundo turno, mais especificamente, na última semana da campanha, se deu menos por sua vontade própria e mais pelo engajamento de pessoas de seu entorno, ou que nada tinham a ver com ele e com o que pensa, mas que simplesmente se desesperaram com a ideia do retorno de um Fujimori ao poder.

Foi o caso do jornalista Gustavo Gorriti _sequestrado durante o fujimorismo, autor de “Sendero” e um dos que investigam os Panamá Papers em seu país_, que deixou a imparcialidade da profissão de lado “porque a democracia estava em risco” e saiu a assessorar PPK no último debate. Tarefa em que se saiu muito bem _o economista acabou vencendo Keiko naquela noite.

Depois vieram, vejam só, os socialistas, que preferiram ver um político de direita, contra o aborto e conservador em termos de costumes e moral do que uma Keiko Fujimori com tudo o que seu clã representa entrando pela porta da frente da Casa de Pizarro.

O que fica mais claro agora, depois de o resultado finalmente dado _após 4 dias de agônica apuração e com uma diferença de apenas 40 mil votos_ é que a PPK “le faltaron las pilas”, a expressão em espanhol para “faltou energia”. Além de, é claro, ter carecido de um bom assessor de imagem, porque pelo menos um par de coisas de sua autobiografia dariam para a construção de uma bela narrativa, senão certamente vencedora, ao menos comovente e propícia para os perfis apresentados pelos meios.

Enquanto o setor progressista da sociedade peruana prefere vê-lo apenas como um conservador sisudo da velha política, PPK _ou um bom assessor de imagem_ poderiam ter reforçado alguns detalhes de sua trajetória que lhe confeririam algo de carisma e certa sofisticação que fazem dele, agora, nada menos do que um dos mais refinados presidentes da América Latina.

Não apenas por ter estudado em Oxford e em Princeton, ser formado em economia, filosofia e falar vários idiomas. Mas por ser filho de um médico alemão dedicado que deixou a Alemanha hitlerista para se embrenhar na selva peruana para estudar a lepra. O aventuroso e corajoso PPK-pai é nada menos que um dos fundadores do leprosário em que o jovem Ernesto Che Guevara (outra ironia), segundo relata em seus diários, fez um de seus primeiros discursos sobre seu engajamento pela América Latina.

Outro detalhe interessante da vida de PPK é o parentesco próximo a algumas celebridades do mundo das artes. Por parte da mãe, a franco-suíça Madeleine Godard, PPK é nada menos que primo-irmão do cineasta Jean Luc Godard. Por parte de sua segunda esposa, Nancy Lange, PPK é parente da atriz Jessica Lange _as duas são primas em primeiro grau.

Antes de se meter com a economia e trabalhar em órgãos como o Banco Mundial e o FMI, ou a política, ocupando cargos nos governos de Belaunde Terry e de Alejandro Toledo, PPK também tentou virar artista. Estudou no Royal College of Music, de Londres, e aprendeu a tocar piano e flauta. Em sua casa, em Lima, a chamada PPKasa, está um piano que pertenceu a Noël Coward.

Nada disso garante que PPK venha a fazer um bom governo, mas se a grande debilidade dos presidentes peruanos parece ser a falta de carisma e popularidade, talvez uma estratégia que PPK possa vir a desenvolver em sua relação com a sociedade e com os outros líderes da região seja a construção de pontes, apoiado em sua cultura, erudição, seu preparo intelectual e, por que não, no glamour de suas relações mais próximas.

Poderia começar, por exemplo, com a implementação de uma grande e inclusiva política cultural que ajude a aproximar os tantos “Perus” hoje divididos pela desigualdade econômica e geográfica.