PRI sofre derrota em eleição no México
No último dia 5, junto com as eleições peruanas, votou-se no México para eleger governadores de 12 departamentos e seus congressos regionais.
Não houve um claro vencedor, mas não há dúvidas de quem foi o maior derrotado, o PRI (Partido Revolucionário Institucional), partido do atual presidente Enrique Peña Nieto, que passa por um momento de crise de aprovação popular (30%).
Dos 12 Estados em jogo, o PRI perdeu em 7 deles. A derrota é mais do que simbólica. Quando o PAN (Partido da Aliança Nacional) encerrou os mais de 70 anos de hegemonia do PRI no cargo presidencial, no ano 2000, com a vitória de Vicente Fox, esse episódio pouco significou do ponto de vista regional. Afinal, ainda assim, o PRI manteve o comando da maioria dos Estados e uma forte presença no Congresso.
Agora, porém, a derrota do partido num local como Veracruz, que há 86 anos está em poder do PRI, certamente terá um forte impacto na rede de poderes locais do partido. O governador de Veracruz, Javier Duarte, era um dos mais influentes e, além de responder por acusações de corrupção, vem sendo denunciado por ONGs e pela Justiça local por conivência com relação a sequestros e mortes de jornalistas _Veracruz é o Estado onde mais profissionais da imprensa perderam a vida nos últimos tempos.
Além de Veracruz, entre os Estados em que o PRI foi expelido, estão quatro em que a oposição jamais havia vencido. Agora, pela primeira vez na história da democracia mexicana, outro partido estará à frente deles.
Do ponto de vista mais nacional, o resultado dessa eleição, a dois anos de finalizar o atual mandato de Enrique Peña Nieto, aponta para como será a campanha para sua sucessão (no México não há reeleição, em nenhuma circunstância).
Nestes quatro anos de mandato até agora (são 6 no total), Peña Nieto teve alguns logros importantes. Colocou alguns Estados no comando de uma economia que veio crescendo uma média de 4% nos últimos anos. Instalou neles pólos industriais, principalmente automobilísticos, atraindo imensos investimentos de empresas estrangeiras, como montadoras coreanas e norte-americanas de aviões e automóveis (uma das coisas que deixa Donald Trump morto de ciúmes, por exemplo), entre outras indústrias.
Promoveu uma reforma energética, privatizando parte da Pemex (Petróleos Mexicanos) e ampliando a participação estrangeira na exploração de energia de um modo geral. Estreitou ainda mais os laços econômicos do México com os EUA, fazendo com que hoje esse comércio bilateral seja mais volumoso e rentável para os norte-americanos do que o intercâmbio com a China.
Porém, Peña (como o chamam os mexicanos) vem falhando do ponto de vista do cidadão comum. Depois da implantação de uma política contra a violência, alternativa à guerra ao narcotráfico instalada pelo PAN nos anos 2006-2012, havia conseguido diminuir o número de homicídios _ainda que usando recursos polêmicos, como pactos com milícias cidadãs, os “autodefensas” e “polícias comunitárias”.
Ainda assim, porém, nos últimos meses, esses números voltaram a crescer. Entre a população do campo, o que mais incomoda não é tanto o narco em si, mas a presença de sua estrutura nas comunidades, onde se aplicam extorsões, sequestros, estupros e onde é impossível ter um negócio ou produzir algo sem pagar uma taxa aos que controlam a zona.
Desde 2006, a quantidade de mortos por conta dos conflitos entre forças do Exército, narcos, “autodefensas”, é pavorosa, ultrapassando as 80 mil vítimas (segundo estimativas oficiais). O sumiço dos 43 estudantes em 2014 só deu uma cara dramática e internacional a um problema social profundo ao qual Peña não soube, até hoje, dar uma resposta.
Sinais de desaceleração da economia, sob impacto do contexto internacional, a queda do preço do petróleo e a disparada do dólar colocaram os economistas em estado de alerta sobre os efeitos que esse novo panorama pode causar ao longo do que falta de mandato do presidente.
Mas, afinal, quem surge como alternativa de poder depois desse pleito e nesse atual contexto?
O partido mais estruturado é o próprio PAN, que saiu vencedor em vários desses cargos. Do ponto de vista nacional, porém, o partido carece de um novo líder forte para a candidatura à sucessão de Peña. Além disso, precisa fazer um trabalho de recuperação de imagem, pois saiu do governo, em 2012, com esta muito desgastada por conta do imenso saldo de mortos da guerra ao narcotráfico.
Uma geração de novos panistas, liderados por Ricardo Anaya, porém, vem tentando dar uma nova cara ao partido, o que pode lhe dar fôlego para disputar com chances a Presidência. A agrupação se divide, porém, quanto às pretensões da ex-primeira-dama Margarita Zavala, mulher de Felipe Calderón (2006-2012) de pleitear a candidatura. Muitos preferem um nome novo.
Outra força que cresceu nessa eleição foi o Morena, partido de esquerda dissidente do PRD (Partido da Revolução Democrática), e que tem como líder o controvertido Antonio Manuel Lopez Obrador, o mesmo que, sendo derrotado nas urnas em 2006, não aceitou o resultado, fez um acampamento no Zócalo e instou a população a rebelar-se quanto ao presidente eleito. AMLO (como é chamado) tem muita influência no chamado DF, a Cidade do México. Mas tanto o PRD como o Morena, as duas principais agrupações de esquerda, também anseiam por novos nomes para candidatar-se ao cargo máximo, que ainda não surgiram.
Correndo por fora, estão as candidaturas independentes, que vêm conquistando espaço. O caso mais famoso foi o de Jaime Rodríguez Calderón, chamado de “El Bronco”, que em 2015 se transformou em primeiro governador de um Estado mexicano (Nuevo León) sem partido. Há governantes municipais sem partido, ainda, em Tlaxcala, Tamaulipas, Aguascalientes, Hidalgo, Oaxaca e Chihuahua. Entre personalidades que aventam a possibilidade de pleitear o cargo sem vincular-se a partidos está o intelectual Jorge Castañeda.
O PRI, com sua estrutura tentacular e nacional, porém, não está morto, e essa votação pode dar-lhe vigor para reestruturar-se para a eleição de 2018. Que estejam adotando um tom mais forte de críticas à candidatura anti-mexicana de Donald Trump, por exemplo, é emblemático como o uso do nacionalismo e do patriotismo é um recurso que o partido sempre soube usar historicamente e que pode ser bem aproveitado agora.