Keiko Fujimori vence penúltimo debate antes da eleição no Peru
A disputa continua apertadíssima. Keiko Fujimori, 40, lidera as pesquisas de intenção de voto para vencer o segundo turno da eleição presidencial peruana, no próximo dia 5, com 52%. Em seu encalço, está Pedro Pablo Kuczynski (77), com 47% _dados do Ipsos. Os principais institutos de pesquisa consideram a diferença um empate técnico. Enquanto PPK (como é conhecido) apostou num estilo cuidadoso e sem muita exposição nesse fim de campanha, tentando com seu perfil moderado concentrar o voto anti-fujimorista, Keiko saiu para o ataque. Bem diferente da candidata derrotada em 2011 por Ollanta Humala, que parecia apenas uma filha comportada e obediente do ex-ditador Alberto Fujimori (que governou entre 1990-2000), a candidata se mostra em constante movimento. Viajou para várias regiões do país, tem se mostrado expressiva, investiu num visual mais moderno, enche de ironia suas referências ao opositor. Enfim, parece, agora, um produto bem preparado por uma equipe de assessores de imagem.
No penúltimo debate televisivo antes da votação, no último domingo, deu Keiko.
Engessado como a maioria dos debates recentes na América Latina, houve pouco espaço para confronto e troca de farpas. Na parte expositiva, ou seja, os quatro primeiros blocos, PPK, um conservador de centro-direita, apresentou-se com sua fala mansa e seu espanhol com sotaque de estrangeiro _filho de imigrantes europeus, viveu boa parte da vida no exterior, tendo estudado na Inglaterra e nos EUA. Prometeu linha-dura com relação ao narcotráfico e os avanços do Sendero Luminoso _ponto em que não difere muito das propostas de Keiko_, mas apontou para uma necessidade de renovação econômica, mais acordos internacionais, reforma em leis do trabalho e retomada do crescimento. Chamou a atenção para o fato de ter sido ministro da Economia durante a gestão de Alejandro Toledo (de 2001 a 2006) e, nesse período, ter “revertido políticas equivocadas do fujimorismo”. Em momentos de algum constrangimento, fez propaganda do próprio livro e afirmou que, mesmo aos 77, tem “muito vigor”. Em momentos mais nervosos do discurso, insistia em bater a mão na mesa e dizer frases de efeito como “a corrupção é um câncer”.
Para provocar Keiko, lembrou a presença de vários ex-funcionários de seu pai em sua rede de apoio.
Já a filha do ex-ditador mostrou-se muito mais espontânea e ambiciosa, apesar de ter lido boa de suas respostas. Logo de cara, chamou a atenção para a principal contradição de PPK, a de que, em 2011, quando ela concorreu contra o atual presidente, Ollanta Humala, o economista a apoiou, fazendo elogios a seu perfil e formação. “Hoje sou mais experiente e uma candidata melhor preparada do que naquela época, e de repente já não pareço tão boa para você.” Keiko também atacou PPK por ter feito uma longa viagem de oito dias durante a campanha, para os EUA. “Enquanto isso”, disse Keiko, “eu recorri as regiões mais humildes do país, falei com as pessoas, ouvi suas preocupações”. Fez, ainda, alusão à idade do rival, 37 anos mais velho que ela, com ironias. “Você está debatendo comigo, não com meu pai”, chamou-lhe a atenção, toda vez que ele se fixava em críticas ao período fujimorismo. Ciente de que alguns colaboradores Fujimori próximos à sua campanha vêm sendo envolvidos numa acusação de lavagem de dinheiro do narcotráfico e nos Panamá Papers, Keiko mirou o canditado a vice de PPK, que é também réu num escândalo de corrupção.
Enquanto no resto da região fala-se em “fim do bolivarianismo” ou em embate entre esquerda e direita, o Peru oferece um panorama distinto. A polarização da sociedade, nesta eleição, está entre um populismo nacionalista e um pragmatismo econômico. Entre essas duas opções, se dividirão os peruanos no próximo dia 5.
(o debate do último domingo está na íntegra no youtube, aqui, deixo o link apenas para as considerações finais dos dois candidatos)