Um prêmio para Máxima, indígena peruana que salvou quatro lagos

Sylvia Colombo
A ativista peruana Maxima Acuña de Chaupe (Foto El Comercio)
A ativista peruana Maxima Acuña de Chaupe (Foto El Comercio)

Um dos temas mais candentes da atual eleição peruana, que caminha para o segundo turno, no próximo dia 5 de junho, é como fazer com que o país volte a crescer como vinha fazendo nos últimos dez anos. Não é para menos, o Peru foi o país sul-americano que mais se beneficiou com o “boom das commodities”, atingindo taxas de crescimento do PIB de até 9%. Agora, encerrado esse ciclo, o Peru anda na faixa dos 2% e 3% _o que é bastante comparando ao atual desempenho do Brasil, mas não suficiente para continuar reduzindo a pobreza e trazendo investimentos de fora.

Essa é a razão pela qual a discussão sobre os rumos da mineração vem tomando dimensão tão grande nessa campanha. Tanto Pedro Pablo Kuczynski, o candidato da centro-direita, como Keiko Fujimori, a líder nas pesquisas, dizem que pretendem expandir esse setor, continuando uma política já iniciada pelo atual presidente, Ollanta Humala, de distribuir concessões para companhias mineradoras peruanas e estrangeiras de maneira desenfreada.

A crítica que se faz a Humala, porém, é que, em seu ímpeto pela retomada do crescimento, não vem observando o impacto ambiental ou a vida das comunidades afetadas pela atividade. Nos últimos anos, grupos de defesa do ambiente vêm se mobilizando para tentar colocar um limite a essa expansão.

É nesse contexto que ganha importância o prêmio Goldman _o mais importante na área de proteção ao ambiente_, entregue, na semana passada, a Máxima Acuña de Chaupe, uma indígena peruana de 47 anos, analfabeta, que venceu uma luta na Justiça contra um conglomerado formado pela empresa norte-americana Newmont Mining Corporation e a peruana Compañia de Minas Buenaventura.

O grupo havia obtido permissão para explorar uma área na região de Tragadero Grande, no norte do Peru, a mais de 4 mil metros sobre o nível do mar. Quando as obras começaram, Máxima estava longe de casa, fazendo um tratamento de saúde numa cidade próxima. Ao voltar e encontrar a operação toda já em andamento, se alarmou. O projeto do consórcio incluía drenar quatro lagos da região em que vive sua comunidade, para tirar dali ouro e cobre para exportação. Embora sem ter um histórico de ativista, Máxima reuniu os moradores da zona e entrou na Justiça contra o empreendimento, em 2011. Depois de uma primeira derrota, voltou à carga, com apoio de grupos de outras partes do país. Secar os quatro lagos significaria deixar sem água cerca de nada menos que 40 mil pessoas. Já o consórcio alegava que a destruição dos lagos seria compensada com a construção de reservatórios para abastecer a população, mas essas obras jamais haviam sido iniciadas. Além disso, Máxima denunciou que, desde que iniciada a campanha, vinha recebendo ameaças anônimas, visitas intimidatórias da polícia local e acusou uma agressão a uma de suas filhas.

A Justiça peruana, por fim, reverteu sua decisão e proibiu o consórcio de explorar os lagos ameaçados.

O prêmio a Maxima Acuña de Chaupe joga luz a uma triste realidade que vive o Peru. Na última década, 61 ativistas que atuam na área de proteção ao ambiente foram mortos, de acordo com a ONG Global Witness. O reconhecimento internacional da luta desses ativistas coloca ainda mais pressão nos dois candidatos que chegam à reta final da campanha eleitoral. Deles a sociedade peruana cobra a retomada do crescimento econômico, mas também responsabilidade ao tratar das riquezas naturais e das condições de vida das populações andinas.