A solidão de Tabaré Vázquez

Sylvia Colombo
O presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, durante campanha de 2014 (Foto Clarín)
O presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, durante campanha de 2014 (Foto Clarín)

O presidente uruguaio Tabaré Vázquez, 76, completa nesta semana um ano no cargo com a aprovação mais baixa de um líder da Frente Ampla em mais de uma década de governo: 29%. Seu antecessor, José “Pepe” Mujica, fechou o mesmo período com 60% de popularidade, enquanto o próprio Tabaré, em sua primeira gestão, completou o primeiro aniversário com cerca de 65%.

Aos olhos do exterior, o Uruguai é uma espécie de oásis numa América Latina convulsa. De fato, as conquistas históricas e recentes não são poucas. Economia com bom e constante crescimento na última década, baixos níveis de corrupção, excelente posicionamento em rankings de índices sociais e de educação no continente, sociedade cada vez mais igualitária e laica, além do vanguardismo em algumas áreas, como a energética. Enquanto outros países sofrem com a queda dos preços do petróleo e a escassez de novas fontes, o Uruguai anunciou ter alcançado o índice de 95% de sua energia vinda de fontes renováveis.

Por que, então, a crescente inquietação com o atual governo?

A resposta não é complicada. Em outros países da região, projetos há muito tempo no poder, como o kirchnerismo na Argentina, o chavismo na Venezuela, Evo Morales na Bolívia e o PT no Brasil deram ou seguem dando claramente sinais de desgaste, cada um de acordo com seu contexto.

Como no Uruguai não há uma cisão política ou crise econômica latente (ainda), os sinais de desgaste da Frente Ampla são menos pronunciados, mas não por isso ausentes _e vêm causando divisões na aliança, até então muito homogênea.

A desaceleração da economia de seus principais vizinhos e parceiros na região (Brasil e Argentina), o aumento da inflação (de 6% para 9%) e das tarifas públicas, além da redução abrupta das exportações para a China indicam um cenário econômico mais complicado para os próximos anos e assustam os uruguaios.

Ao mesmo tempo, Tabaré (como é chamado pela população) não dá sinais satisfatórios de parecer saber lidar com a situação. Muitos o veem como um idealista romântico, que em vez de enfrentar problemas concretos, prefere falar em fóruns internacionais sobre os males do tabaco para a saúde. Consideram, ainda, que não tem pulso forte para pôr fim de modo satisfatório às greves, cada vez mais recorrentes, de sindicatos e setores públicos. Veem, hoje, um líder envelhecido, diferente daquele que assumiu com entusiasmo o país em 2005, em meio à onda de crescimento da região com o “boom” das “commodities” e o ânimo renovado por ser o primeiro governo de esquerda da história do país.

As próximas eleições ocorrem apenas em 2019. Ainda é cedo para avaliar se a Frente Ampla terá fôlego ou não para renovar sua permanência no poder. O que parece claro é que Tabaré precisa dar mostras de reação, enquanto uma mudança geracional vem inevitavelmente se gestando. Entre os nomes que despontam como sucessores estão líderes na faixa dos 40-50, como o conservador Lacalle Pou (derrotado na eleição de 2014) e o esquerdista Raúl Sendic, atual vice-presidente e filho do líder tupamaro de mesmo nome.