Filme que tem Darín como paciente terminal de câncer vence o Goya
Ricardo Darín, 59, já havia sido indicado três vezes para ganhar o Goya, o Oscar do cinema em espanhol, mas apenas na noite deste sábado (6) conseguiu o feito, por protagonizar uma produção espanhola, na qual talvez não tivesse tido o mesmo êxito sem um companheiro perfeito, o também espanhol Javier Cámara (de “Fale Com Ela”, de Almodóvar), que ficou com o prêmio de principal coadjuvante.
O filme em questão, “Truman”, foi o grande vencedor da noite. Além dos dois atores, a produção venceu nas categorias de melhor filme, melhor diretor (Cesc Gay) e melhor roteiro original. Em chave tragicômica, a trama conta a história de Julián (Darín), um ator argentino que vive em Madri e que tem um câncer terminal. A pedido da prima, Paola (Dolores Fonzi), seu melhor amigo, Tomás (Javier Camara), viaja desde o Canadá para convencer Julián a continuar seu tratamento de quimioterapia, ao qual ele se recusa. Cansado e desgastado de lutar contra uma doença que tem certeza que o matará cedo ou tarde, Julián não dá ouvidos aos dois. Sua única preocupação, que é o motor do filme, é encontrar alguém para cuidar de seu cachorro, Truman, assim que ele morra.
Estive na sessão para a imprensa quando o filme entrou em cartaz em Buenos Aires, em setembro. Na entrevista para os jornalistas presentes, Darín minimizou as perguntas de quem achava que o filme traria polêmica por propor temas relacionados à eutanásia ou à negação de tratamento para doentes terminais.
“Respeito quem pense diferente, mas creio que cada um deve ter o poder de decisão sobre como quer terminar sua própria vida”. Bem humorado e exibindo um bigodão, relacionado ao próximo filme que estava rodando e que se passaria nos anos 80, Darín fez elogios ao diretor, Cesc Gay, mas contou que teve com ele uma curiosa disputa.
Na verdade, o nome real do cão que fez o papel de Truman era Troilo, e Darín quis muito que o cachorro do filme mantivesse seu nome verdadeiro, que faz referência ao acordeonista e compositor de tango Anibal Troilo (1914-1975). “Tentei fazer com que Cesc entendesse que, apesar de tratar de um tema universal, e de ser rodado em Madri, esse era um filme tomado pela argentinidade, pela dramaticidade do tema, pela autocomiseração irônica do meu personagem, portanto, nada mais natural que o cão continuasse a chamar-se Troilo”. Cesc, porém, não se convenceu, e o cachorro, que ao final, também tragicamente, morreu antes da noite da premiação, continuou chamando-se Truman.
Apesar de todos os filmes de Darín serem demasiado marcados por seu estilo e presença, no caso de “Truman” é diferente. A atuação de Cámara como Tomás, e o modo como vai destilando sua amizade com Julián primeiro em revolta, depois em admiração, orgulho e, ao final, uma tristeza redentora, dão o tom da produção, que esperemos que estreie logo no Brasil.