Evo Morales vira Jedi em campanha por um quarto mandato
Um dos poucos governos de esquerda da América Latina que não estão em sérios apuros econômicos _com previsão de crescimento do PIB para 2016 em torno dos 4%_, a Bolívia de Evo Morales entra no novo ano em agitado clima pré-eleitoral. No próximo dia 21 de fevereiro, os bolivianos irão às urnas para decidir se “sí”, querem mudar a Constituição e assim permitir que Morales concorra a uma nova eleição, ou “no”, que seu longo mandato, já renovado duas vezes, se encerre finalmente em 2018.
E o presidente indígena já lançou sua primeira cartada na campanha. Nada de propagandear os bons números das exportações de energia e minérios, nem de exibir spots sobre como melhorou, de fato, a vida dos camponeses humildes de seu país. Com mais de 100 mil visualizações, o vídeo “Bolivian Wars – El Despertar del Sí” virou coqueluche nas redes. Exibido na página “Sí Bolívia”, criada pelo governo no Facebook, mostra uma intervenção no trailer de “O Despertar da Força”, o novo filme da saga “Guerra Nas Estrelas”. Na colagem, Morales aparece como Jedi (óbvio), representando o lado positivo da Força, enquanto os opositores encarnam seu “lado negro”. São eles o ex-presidente Gonzalo Sanchez de Lozada e o ex-ministro de Defesa, Carlos Sanchez.
“Você, ele, ela, todos nós que lutamos contra o Império e que buscamos um melhor futuro. Una-se à força positiva da força, o lado do sim”, diz o anúncio do vídeo. “Diga não ao lado escuro do passado, do atraso, da pobreza e da maldade”.
A oposição ainda não mostrou suas cartas para o plebiscito. E seu desafio não é pequeno. Em 2014, na eleição presidencial, Morales saiu vencedor com 61% dos votos, deixando o segundo colocado a distantes 46 pontos percentuais de diferença. Os opositores pagaram o preço de não terem se unido em torno de uma só proposta e candidato, diluindo-se em várias candidaturas. Já o presidente não escolheu essa data para o plebiscito por acaso. Morales quis apressar o processo de mudança na Constituição enquanto ainda tem uma taxa de aprovação alta. Caso espere um pouco mais, corre o risco de uma mudança de clima, agravado pela desaceleração da China e do resto da região. Talvez nessa demonstração de certa insegurança do mandatário, a oposição possa encontrar uma fragilidade a partir da qual construir uma proposta.
Por enquanto, os nomes possíveis de opositores a Morales encontram-se em antípodas ideológicas. À direita, está o empresário Samuel Medina, segundo colocado no pleito do ano passado, à esquerda, o também líder indígena Felipe Quispe, muito crítico do presidente, a quem acusa de ter se vendido ao “neoliberalismo”. Enquanto debate que estratégia usar no plebiscito, a oposição dividida assiste o que agora parece inevitável: o avanço do Jedi Evo para alterar a Constituição e tentar eternizar-se no poder.
Abaixo, o vídeo: