O Brasil não vai ao Oscar, mas a Colômbia sim

Sylvia Colombo

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Único representante latino-americano na pré-seleção do Oscar de filme estrangeiro, “El Abrazo de la Serpiente” é um filme de rara beleza, sintonizado com o ambiente socio-político da Colômbia nos dias de hoje. O diretor Ciro Guerra, 34, meteu-se nas profundezas da Amazônia colombiana para contar uma história inspirada nos diários de seus primeiros exploradores, o alemão Theodor Koch-Grunberg e o norte-americano Richard Evans Schultes, que ali estiveram na primeira metade do século 20. Filmado em preto-e-branco, a narrativa sobrepõe e confunde tempos, há passagens que ocorrem 40 anos distantes uma da outra, mas a ideia é, justamente, adotar um olhar indígena e portanto não-linear para o processo de contato com o homem branco. Obviamente, há aí elementos comuns a tantos episódios parecidos na história de nosso continente, primeiro vem o deslumbramento, depois a amizade e a traição movida a ganância, mas o modo de construir o relato é outro. A trama gira em torno do encontro desses forasteiros com o xamã Karamakate, e de sua busca pela yakruna, uma erva com poderes curativos. O filme, uma co-produção com Argentina e Venezuela, vem sendo elogiado e premiado em sua curta carreira até aqui, ganhando o prêmio Art Cinema na quinzena dos realizadores de Cannes. 

“El Abrazo de la Serpiente” não é um fato isolado. Nos últimos anos, o cinema colombiano vive um renascimento, que já comentei aqui no blog. As razões são muitas, entre elas, a criação de leis de incentivo para o setor, a boa performance macroeconomica do país e um otimismo generalizado com a perspectiva do fim da longa guerra do Estado com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Este último item está presente em várias produções recentes que, inconscientemente ou não, buscam adentrar o país e mostrar paisagens até pouco tempo atrás proibidas por conta das limitações territoriais impostas pela guerrilha. Outro exemplo disso é o documentário “Colômbia Selvagem”, que levou milhões aos cinemas, mostrando zonas do país que para uma certa geração, a de cineastas como Ciro Guerra e mais jovens, eram absolutamente desconhecidas. Tudo indica que o período do chamado “pós-conflito”, que terá início assim que o acordo de paz final for assinado em Havana, em 23 de março de 2016, será também o de uma reflexão nacional, com impacto na literatura e no cinema.

Dia 14 de janeiro saem os cinco finalistas do Oscar de filme estrangeiro. Nem “O Clã”, nem “Que Horas Ela Volta?”. A América Latina desta vez vai de “El Abrazo de la Serpiente”.