Novo ministro da cultura argentino quer incrementar programa de traduções Brasil-Argentina

Sylvia Colombo
O novo ministro da cultura da Argentina, Pablo Avelluto (Foto El Cronista)
O novo ministro da cultura da Argentina, Pablo Avelluto (Foto El Cronista)

Fã de jazz e de música brasileira, o novo ministro da cultura argentino é admirador de algumas políticas para a área adotadas pelo Brasil, como o vale-cultura. “Quero conhecer Juca Ferreira assim que for possível”, disse, em entrevista à Folha.

Vindo do mercado editorial, Pablo Avelluto, 49, tem um perfil muito diferente da atual ocupante da pasta, a cantora e compositora de música folclórica Teresa Parodi, e diz que uma de suas principais preocupações será abrir o ministério para “outras formas de pensar”.

Em sua avaliação, os últimos anos do kirchnerismo (2003-2015) foram marcados por uma política cultural de “visão única”, apoiada na ideologia nacionalista do governo.

“Por exemplo, foi comum o Estado praticamente apoiar e financiar viagens e participações internacionais para artistas que eram alinhados ao kirchnerismo. Eu penso diferente, que é preciso valorizar um artista pela qualidade de sua obra”, explica.

Avelluto, que foi gerente editorial da Random House Mondadori na Argentina, foi escolhido por Mauricio Macri, que assume como presidente no próximo dia 10.

Já há, porém, algumas polêmicas esperando-o para seu primeiro dia de trabalho. Um dos problemas é o que fazer com alguns cargos e secretarias criados por Cristina Kirchner, como a Secretaria de Coordenação Estratégica para o Pensamento Nacional. Avelluto já declarou que considera desnecessária tal repartição, e que ela propaga uma “visão única” e “excludente” da cultura. Quem a dirige, porém, é um intelectual muito respeitado na Argentina, o filósofo Ricardo Forster, que foi professor de Avelluto na Universidade de Buenos Aires.

Outro assunto que divide os políticos do próprio partido de Macri é o que fazer com o Centro Cultural Kirchner, monumental espaço com auditório e local de exposições, no centro de Buenos Aires. Há quem queira simplesmente trocar o nome do lugar, como Hernán Lombardi, que assumirá como Secretário de Meios. Avelluto evita a disputa, dizendo que “O debate não deve nos separar, Néstor Kirchner foi um presidente da democracia muito querido das pessoas”.

Sua preocupação, diz, é descentralizar a cultura pelo país, pois até hoje encontra-se muito concentrada em Buenos Aires. “Temos excesso de oferta de teatros e museus na capital, mas dificuldade em fazer com que as obras e os elencos possam viajar.”

Também prevê uma revisão de contas do INCAA (Instituto Nacional de Cine y Artes Visuales), órgão estatal de fomento ao cinema, por trás da maioria dos filmes argentinos que fazem sucesso no Brasil. Nos últimos anos, uma série de denúncias de corrupção vieram à tona. “É preciso analisar com cuidado todo o seu funcionamento”, diz.

Por outro lado, afirmou que manterá as boas políticas do kirchnerismo e que não realizará uma “caça às bruxas”. Entre os programas que o governo anterior impulsou e que ele admira está o da rede de bibliotecas populares.

Quanto à relação com o Brasil, Avelluto elogia o programa de traduções mútuas que já existe entre os dois países. “Mas é preciso fazer mais, incrementar e facilitar as traduções. O Brasil hoje está traduzindo mais obras argentinas contemporâneas que o contrário, quero mudar isso.”

Sobre as políticas culturais brasileiras, Avelluto diz que são um modelo, mas que leis de renúncia fiscal não devem ser usadas de modo amplo, num primeiro momento. “Precisamos de mais leis de mecenato, mas é preciso evitar que se transformem em meios de evasão de dinheiro.”