Rubén Blades, cantor, ex-presidenciável e… caçador de zumbis

Sylvia Colombo
O cantor panamenho Ruben Blades no cartaz da série (Foto Divulgação)
O cantor panamenho Ruben Blades no cartaz da série (Foto Divulgação)

O último capítulo da primeira temporada da série “Fear the Walking Dead” (AMC) vai ao ar neste domingo (4) à noite. Se o show ainda não decolou como o produto original, “The Walking Dead”, pelo menos até aqui criou mais situações que permitem um debate sobre, afinal, porque o tema dos zumbis provoca tanto medo e fascinação.

Uma dessas situações é a protagonizada, vejam só, pelo cantor e ator panamenho Rubén Blades, que já concorreu à Presidência de seu país. Mais conhecido por sua longuíssima carreira musical, Blades já atuou no cinema e na TV, encarnando o pintor Diego Rivera, um líder de cartel de narcotráfico e o presidente do México, mas pela primeira vez integra o elenco de um programa sobre um de seus assuntos favoritos, os “mortos-vivos”.

Na série, Blades é Daniel Salazar, um imigrante da América Central que passou por guerras civis e viu muita coisa feia, antes de se instalar como barbeiro em Los Angeles. A cidade californiana é o centro dos acontecimentos de “Fear the Walking Dead” que, diferentemente da série original, tem início um pouco antes de a epidemia se instalar. O programa mostra o início da propagação da “doença”, quando os seres humanos ainda não entenderam o que está acontecendo, não sabem se devem tentar enfrentar ou fugir dos zumbis e ainda acham que podem acreditar na ação das autoridades.

Salazar é um dos primeiros a ter certeza de que o Exército e o governo não estão sendo tão bonzinhos e protetores assim. Para surpresa dos outros personagens norte-americanos, Salazar desconfia da versão oficial e usa métodos de guerra, como a tortura, para obter informações. Se escandaliza seus companheiros de infortúnio, que ainda querem acreditar na Lei e nos princípios da civilização, Salazar os surpreende pela eficiência de seus métodos bárbaros.

Em entrevistas a revistas especializadas, o artista diz que a série é puro entretenimento, mas que traz à tona questões que ele considera muito reais. “Salazar tem conhecimento prévio do que é o caos e o colapso da ordem. Os outros, não, porque são produto da ordem dos EUA. Por isso ele se movimenta de maneira diferente, entende a violência de maneira mais clara e mais rápida”, diz, em entrevista à “Entertainment Weekly”.

Os conflitos da América Central marcaram Salazar, que se lembra da destruição das cidades e da transformação moral de amigos e parentes. Fica claro que seu papel não foi exatamente heróico. A mulher com quem está casado sabe disso, e interpreta o terror que se instala como uma punição divina.

Num primeiro momento, os latinos também são tratados como “os outros” pelos personagens brancos e americanos do programa. Logo, com a urgência da situação e o surgimento de um inimigo real, os zumbis, são rapidamente integrados ao grupo, e a expertise de Salazar, ainda que remita à barbárie, logo se transforma em útil ferramenta para a sobrevivência. Na mesma entrevista, Blades diz: “Todo mundo fala do dia 12 de outubro de 1492, quando Colombo chegou às Américas. Mas ninguém fala do dia 11 de outubro. O dia 11 de outubro foi um dia como qualquer outro, e quando as pessoas acordaram no dia 12, viram coisas que jamais imaginaram existir, e suas vidas mudaram para sempre. Portanto, por trás dessa série de TV que parece inócua, existem importantes e duras questões”.

A primeira temporada de “Fear the Walking Dead” teve apenas seis capítulos (o último vai ao ar nesta noite), mas o sucesso já garantiu a segunda temporada, na qual o grupo principal de sobreviventes terá de se virar sozinha, após o Exército ter decidido salvar apenas a si próprio.

Cartaz de promoção da série (Foto Divulgação)
Cartaz de promoção da série (Foto Divulgação)