No Equador, o humor enfrenta o autoritarismo
Um mural em branco na Plaza del Teatro, na capital equatoriana, reuniu 11 caricaturistas de oito países diferentes para manifestar-se contra os ataques à liberdade de expressão na América Latina. Numa ação que contou com a participação de Thomas Plassman (Alemanha), Bernardo Erlich (Argentina), Caco Galhardo (Brasil), Guy Badeaux (Canadá), Daryl Cagle (EE.UU.);,Darío Castillejos (México) e Pedro Molina (Nicaragua), o mural logo foi completado por cartuns e mensagens de solidariedade.
O ato encerrou o 2o Encuentro Internacional de Humor Gráfico, realizado sob a batuta de um dos cartunistas mais importantes da América Latina hoje, o equatoriano Xavier Bonilla, mais conhecido como Bonil, 51, recém-premiado pela Sociedade Interamericana de Prensa e porta-voz informal de jornalistas e diários que enfrentam o avanço autoritário do presidente Rafael Correa contra a mídia local. Desde que assumiu o poder, em 2007 (está já no terceiro mandato), o mandatário expropriou meios, protagonizou ações contra jornais, provocou o exílio de editorialistas e diretores de veículos e aprovou uma polêmica Lei de Mídia. Através da legislação, tem movido ações como a que vitimou o próprio Bonil, obrigado a refazer uma charge que contava a história de um assédio a um jornalista. O jornal no qual Bonil publica seus desenhos, o “El Universal”, foi multado com 2% de sua faturação.
Bonil tinha tudo para estar ressentido, mas atua com excepcional bom humor, e assim acolheu os artistas em Quito na última semana. “Os caricaturistas são os que hoje em dia dão a cara, no Equador, e fizeram possível criar uma via de escape para a liberdade de expressão”, disse o chargista. O equatoriano chamou a atenção para a vocação do humor de promover a tolerância, algo mais do que necessário após o ataque ao jornal francês “Charlie Hebdo”.
O encontro ganha importância uma vez que Correa recentemente obteve aprovação da Corte Suprema para seguir adiante rumo à mudança constitucional que permitiria que concorresse a um quarto mandato em 2017. A lei obriga que se faça referendo para decidir isso, mas Correa conseguiu que a corte transferisse a decisão à Assembleia, onde possui ampla maioria.