Em Buenos Aires, Judith Butler fala de desaparecidos na Argentina e no México

Sylvia Colombo
A filósofa Judith Butler (Foto Divulgação)
A filósofa Judith Butler (Foto Divulgação)

O público esperava uma discussão sobre gêneros, assunto de expertise da filósofa norte-americana Judith Butler, 59, na palestra “Cuerpos que Todavía Importan”, que ocorreu na Universidade 3 de Febrero, em Caseros, na Província de Buenos Aires. O tema da palestra, porém, logo desembocou na política local latino-americana.

Falando bom espanhol entre uma passagem e outra, Butler afirmou estar atenta ao caso dos 43 estudantes desaparecidos no México, e afirmou ser importante o fato de uma equipe forense argentina estar participando de investigações sobre o que ocorreu em Iguala. “Os argentinos sabem a dor e o trauma que causa um corpo desaparecido”, fazendo referência direta às mais de 20 mil pessoas que sumiram durante a ditadura militar (1976-83).

Também solidarizou-se com as marchas e manifestações de mulheres que nos últimos meses foram comuns em Buenos Aires, em resposta a mortes violentas. “Em geral, uma primeira reação é horrorizar-se e tratar aquilo como uma aberração, mas é preciso refletir sobre o que causa isso”. Pediu, ainda, uma visão crítica da atuação da polícia, e voltou a dar exemplos locais, como o de países centro-americanos (El Salvador, Honduras) e do Sul, como a Argentina.

Afirmou que “se uma pessoa considerada ‘diferente’ é assediada por andar sozinha em uma rua, em qualquer país que seja, é porque toda a sociedade é cúmplice da violência que pode sofrer”. E acrescentou, meio em tom de ironia: “ou caminhamos para uma mudança radical e crítica disso, ou é melhor que essa pessoa seja boa em auto-defesa”.

Ao final, um estudante lhe perguntou o que fazer na Argentina, uma vez que não considerava ser possível esse tipo de transformação por aqui, pelo menos não tão rápido.

Butler, respondeu: “Devemos lutar pelas mudanças sociais, mas elas são lentas, enquanto isso, eu diria que você deve aprender a algum tipo de auto-defesa também.”

Na sexta-feira, Butler fará uma visita à ESMA (Escola Superior da Marinha), um dos principais centros clandestinos de repressão durante o regime militar.