Em novo filme, Ricardo Darín tem câncer e busca dono para seu cão
Nunca tinha visto Ricardo Darín dar entrevista à imprensa em Buenos Aires, e confesso que fiquei meio chocada com a reação de muitos de meus colegas. Bastou o ator entrar na sala do cinema Village, na Recoleta, para falar sobre seu novo filme, “Truman”, para que se levantassem para aplaudi-lo. E, na hora das perguntas, poucos escaparam do tom ameno e laudatório, tecendo elogios ao filme e à sua atuação. Acabou sendo o próprio Darín, com sua ironia auto-depreciativa, quem baixou a bola da tietagem e colocou a conversa num nível mais adequado. Enfim, lamento pelo jornalismo, mas vamos ao filme.
“Truman” é a história de Julián (Darín), um ator argentino que vive em Madri e tem um câncer terminal. A pedido da prima, Paola (Dolores Fonzi), seu melhor amigo, Tomás (Javier Camara), viaja desde o Canadá até a capital espanhola para uma difícil tarefa: convencer Julian a realizar novas sessões de quimioterapia para tratar a doença. Enquanto Tomás e Paola se exasperam com a decisão de Julián de não encarar mais nenhum tratamento, a única preocupação do ator mesmo é decidir quem vai cuidar de Truman, seu cachorro, depois que ele morrer. Em tom tragicômico, o filme em alguns momentos corre o risco de despencar para a pieguice, mas por sorte encontra sua trilha, propõe um debate e emociona.
A ação se passa principalmente em Madri e o diretor é o espanhol Cesc Gay, mas o filme está tomado de “argentinidade”, tanto no fatalismo como no humor refinado e sombrio do roteiro. Tanto Gay como Darín encararam a tarefa de maneira quase pessoal, por terem tido familiares que morreram de câncer. “Acho que as pessoas têm de ser livres para decidir o que fazer com a própria vida e como querem morrer”, disse Darín, ao responder sobre as possíveis reações negativas do público.
Não há estreia prevista no Brasil, por enquanto. A próxima escala do filme é o festival de San Sebastian, no final do mês.