Rafael Correa declara guerra aos memes
O presidente equatoriano Rafael Correa abriu guerra aberta a um grupo de internautas que vêm criando memes para burlar-se do mandatário. Depois de desapropriar TVs, mover causas na Justiça contra donos de jornais, obrigar colunistas a exilar-se nos EUA e cartunistas a corrigirem suas charges, Correa mostra que aqueles que realmente teme, no momento, já não são os veículos tradicionais, e sim seus detratores anônimos nas redes sociais.
Numa fase de queda de popularidade, causada pela baixa do preço do petróleo e a desaceleração da economia, o presidente, no poder desde 2007, convocou seus apoiadores a responderem às provocações virtuais: “Para cada tuíte mentiroso que eles mandarem, nós vamos mandar outros 10 mil que falem a verdade”, bradou num discurso. Paralelamente, colocou os serviços de inteligência para rastrear os autores dos tuítes anti-governo e está entrando na Justiça contra os identificados.
A troca de farpas não vem de hoje, mas ficou mais séria depois que uma página anônima na internet (com perfis no Facebook e no Twitter) começou a produzir memes com gafes e contradições de Correa. O que mais circulou foi o que mostrava o presidente com uma sacola de compras, num shopping em Amsterdã, em sua última viagem à Europa (sua mulher é belga). Causou furor porque ocorreu logo depois de Correa anunciar que será necessária uma política de ajustes e de cortes em gastos públicos no novo contexto econômico (o país chegou a crescer 6% no início de seu mandato, performance que cairá pelo menos pela metade em 2015, segundo as projeções).
Correa ficou furioso com a piada, e visivelmente reagiu de forma exagerada. De volta ao Equador, num pronunciamento de três horas (melhores momentos abaixo) disse estar sendo vítima de uma ação “sistemática, criminosa e financiada” por interesses que querem que deixe o governo. O pior, porém, ficou por conta das justificativas que deu. Disse que entrou no tal shopping, que não seria de luxo e sim uma simples galeria de rua, porque “sentia frio”, e que na sacola levava, na verdade, apenas artesanato equatoriano para presentar os amigos dos filhos.
A conta do Crudo Ecuador no Twitter esteve suspensa mais de uma vez. A justificativa da empresa é que estaria usando fotos sem o devido copyright. Restaurada, continua em atividade, porém o internauta anônimo por trás dela diz que não irá se identificar por medo a represálias. Correa ameaçou, dizendo que “quando ele for identificado, tenho certeza de que não vai achar engraçado”. Ainda no tal discurso contra internautas opositores, Correa divulgou nomes completos de contas anônimas rastreadas pelo serviço de inteligência. Estes, assustados, apagaram suas contas.
A guerra cibernética se intensificou desde meados do ano passado, quando os jornais tradicionais deixaram de publicar comentários embaixo de suas notícias, para não serem responsabilizados judicialmente pela Presidência. Em entrevista à BBC, o responsável pelo Crudo Ecuador disse: “Nunca pensei que me tornaria uma das pessoas mais buscadas pelo governo. O presidente tem um programa de TV, financiado pelo meu imposto, e está usando isso para me desacreditar e atacar.”