A solidão de Enrique Peña Nieto
A cara de galã de telenovelas nunca ajudou. A pose e o estilo metrossexual latino tampouco. Desde a campanha e o princípio de seu governo, em 2012, que marcou o retorno do Partido Revolucionário Institucional (PRI) ao poder no México, Enrique Peña Nieto se debate com a extrema rejeição por parte das classes médias das grandes cidades, a esquerda e os conservadores. Atualmente com a taxa de desaprovação de seu governo em 60%, o presidente mexicano tenta entender como é que no próprio país não consegue entusiasmar as pessoas do mesmo modo que fora dele. O México tem sido elogiado pela imprensa e governos internacionais, e apresentado como um modernizador por conta das recém aprovadas reformas energética, de telecomunicações e política.
É certo que a economia não crescerá, em 2014, o que ele prometeu em sua campanha, cerca de 5%. Mas é fato que triplicará o minguado 1% de 2013. A principal batalha travada neste ano foi a aprovação de uma reforma da exploração do petróleo e do gás natural que tirou da Pemex (Petroleos Mexicanos) um monopólio de mais de 75 anos. Para os apoiadores do projeto, a medida vai baratear as contas e fazer crescer o PIB em até 2% em dois anos. Para os críticos, é um absurdo a liberação da exploração sem a devida discussão sobre o impacto ambiental. Acusado, durante a campanha eleitoral, de ser o candidato da hegemônica cadeia televisiva, Peña Nieto está abrindo as concessões para a entrada de novos elementos. Nas últimas semanas, anunciou, também, a criação de um novo aeroporto para melhorar o fluxo de visitantes à caótica Cidade do México. A oposição recebeu a ideia de forma dura, alegando que a obra desapropriará moradores e comércio na região. Há um par de semanas, a revista britânica “Economist” tentou entender a solidão do presidente, justo quando se anunciava, no México, a positiva previsão de crescimento do PIB para o ano que vem. Não conseguiu apresentar argumentos objetivos.
Analistas creem que uma esquerda renovada, já sem tanta influência do folclórico líder Andrés Manuel Lopez Obrador, e uma direita mais compactada no PAN (Partido da Ação Nacional) podem tornar as eleições de meio de mandato, em julho do ano que vem, mais concorridas, e o governo de Peña Nieto, daí em diante talvez mais difícil.