Revendo Gabo

Sylvia Colombo

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Nesses dias em que Gabriel García Márquez se encontra num momento delicado, já com uma metástase do grave câncer que o aflige há mais de dez anos, andei repassando coisas que escrevi sobre ele ao longo de mais de 20 anos de atuação minha no jornalismo cultural. Para qualquer profissional da área, Gabo é referência e assunto, como muitos colegas, tive minha fase de andar mergulhada em sua obra, sua biografia e seu rastro. Não, nunca consegui uma entrevista, algo que ele concedeu pouquíssimas vezes nas últimas décadas. Mas empreendi a aventura de ir até Aracataca, a cidade que inspirou Macondo, quando Gabo completou 80 anos _e “Cem Anos de Solidão”, 40. Ali, foi descobrir nos rostos, atitudes e costume das pessoas os elementos que ele usaria de forma tão genial em “Cem Anos de Solidão”. Para quem quiser ler a reportagem (a resolução da imagem acima não permite a leitura), vai aqui o link da matéria: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0209200708.htm. O mais surreal foi entrevistar o então prefeito, que num gesto eleitoreiro propôs um plebiscito para mudar de vez o nome do local de Aracataca para Macondo, tamanha a projeção do local mágico e imaginário de Gabo pelo mundo. O vi duas vezes, uma nessa ocasião, quando chegou num trem de época à sua cidade-natal, outra em Cartagena, durante evento da Fundacion Nuevo Periodismo, fundada por ele.

 

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Também acompanhei seus escritos mais recentes, como a biografia “Viver para Contar”, que explica magistralmente como Gabo saiu de uma infância pobre para criar um gênero que misturaria Kafka com o jeito de contar histórias de sua avó, com quem cresceu a partir dos dois anos de idade. Obviamente, também me irritei com o dogmatismo de suas ideias políticas, e a fé cega que mantinha na Revolução Cubana a ponto de apoiar a ditadura em que o regime se tornou. Mas definitivamente, sua obra jornalística, como comentei nessa matéria abaixo, deixou ensinamentos a algumas gerações futuras. A minha incluída.

Ainda postarei mais sobre Gabo nos próximos dias, acompanhando essa agonia do que parecem ser seus últimos momentos nesse mundo. O legado, o que fica, o futuro de sua obra na de gerações posteriores, será o tema de um próximo post. Ainda, porém, torcendo para que se recupere e tenha um pouco mais de tempo com os seus amigos, familiares e leitores.

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