Vargas Llosa, Gallegos e a Venezuela de nossos dias
Os tradicionais prêmios literários latino-americanos andavam em decadência desde o “boom” de premiações feitas por gigantes editoriais, como a Alfaguara. Foi-se o tempo em que vencer um Casa de las Americas, ou um Romulo Gallegos, rendiam fama e vendas para um jovem escritor do continente. Foi tentando mudar isso que Mario Vargas Llosa, recém-completados 78 anos, inaugurou, nesta semana, o prêmio Bienal Mario Vargas Llosa, entregue ontem em Lima.
Participaram mais de 300 autores, e o vencedor, que leva US$ 100 mil, foi o espanhol Juan Bonilla. O autor de “Proibido Entrar Sin Pantalones” (Six Bairral), recebeu o prêmio das mãos do Nobel peruano. Deram continuidade, assim, a um gesto iniciado em 1967, quando um já bastante idoso Romulo Gallegos premio Vargas Llosa, que tinha apenas 31, por seu “A Casa Verde”.
A ocasião serviu, também, para lembrar o ícone da literatura venezuelana, num contexto em que seu país vive novo período de turbulência política. Gallegos é autor do clássico “Doña Barbara” (1930), um potente romance sobre como a força da natureza e a tradição agrária de um país se refletem na formação de uma sociedade. Indiretamente, era uma crítica ao sistema ditatorial de Juan Vicente Gómez (1857-1935).
Para quem acha que a Venezuela passou a existir a partir de Hugo Chávez (1954-2013) e que sua crise política atual deve-se apenas a ele, vale a pena rever a trajetória de Gallegos e o contexto histórico de um país que viveu muitas lutas desde o fim do seu período colonial, do qual carrega ainda hoje uma pesada herança e que explica muito de sua polarização. Gallegos, ligado ao partido da Ação Democrática, foi seu ministro de Educação, e candidatou-se à Presidência duas vezes. Na segunda, foi vitorioso, mas governou apenas alguns meses, derrubado por um golpe que instauraria uma nova ditadura, a de Marcos Pérez Jimenez. O bom documentário abaixo assinala bem seu caminho, contextualizando essa primeira metade do século 20 na Venezuela.