Marcelino Freire, e a nova literatura brasileira em Buenos Aires

Sylvia Colombo

Não é a primeira vez que a informalidade da literatura contemporânea brasileira visita Buenos Aires. Há alguns meses, o paulistano Ferréz iniciou o público do Malba (Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires) na linguagem das quebradas de Sampa. Ontem, foi a vez do pernambucano Marcelino Freire, com um portunhol doce e nordestino, encantar a plateia do convencional espaço portenho com seus “Contos Negreiros”.

Freire veio a Buenos Aires finalizar seu romance, “Nossos Ossos”, “longe do agito de São Paulo, dos telefones tocando”, isolou-se nos cafés da cidade e pôs-se a trabalhar. O livro sai no segundo semestre pela editora Record.

Na palestra de ontem, Freire esteve acompanhado do argentino Washington Cucurto, com quem leu trechos de seus “Cantos Negreiros”, que sai agora em castelhano. A linguagem foi um dos temas principais da conversa, assim como recordações de infância e como elas se espelham na literatura. O escritor lembrou a mãe, efusiva, e o pai, silencioso, como elementos importantes do ritmo em sua literatura. Aspectos da tradução também vieram à tona, dada a dificuldade de traduzir os contos e sua coloquialidade nordestina ao espanhol. Criador da Balada Literária paulistana, Freire leu “Totonha” e um excerto de um artigo para um jornal (“Da Paz”), que evoca os movimentos de rua que se espalham pelo país. Ao final,

O autor comentou, ainda, as manifestações que estão ocorrendo em todo o Brasil, marcadamente em São Paulo e Rio. “Vamos esperar chegar a Copa, o Brasil no espelho do mundo, para resolvermos os problemas internos? Não! Tem que resolver agora!”.

A tradução da obra de Marcelino Freire integra um projeto amplo que vem sendo realizado por editoras pequenas argentinas de divulgar a prosa contemporânea brasileira. Iniciativa que quase não existe nos outros países da América Latina, é exercida com distinção principalmente pelos selos independentes, como a Interzona, Beatriz Viterbo e Adriana Hidalgo.