Pesadelo no Borda

Sylvia Colombo

O principal opositor de Cristina Kirchner, o prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, mais uma vez mostrou sua inabilidade para conter crises e sua falta de escrúpulos ao defender negócios que apenas beneficiam a ele e a seus aliados. Desta vez, porém, as vítimas de suas ações foram nada menos que pessoas doentes, os pacientes do hospital psiquiátrico Borda, tradicional instituição portenha, os médicos que os atendiam, artistas que mantêm aí uma atividade cultural, e jornalistas que cobriam o episódio.

A novela começou quando Macri anunciou seu projeto de diluir a sede da prefeitura entre vários bairros. Um dos escolhidos foi, justamente, Barracas, ao sul da cidade, onde se encontra o Borda. Seu território é imenso e acolhe, além dos prédios do hospital, um imenso parque e áreas livres. Pois Macri manifestou sua vontade de construir aí nada menos que uma torre moderna, ao estilo das de Puerto Madero, e mudar para essa região parte de sua administração. Vinculado a empresários da área de construção, não é a primeira vez que o prefeito sugere obras em que, de algum modo, saem beneficiados seus apoiadores.

Revoltados, os funcionários do local e pessoas que fazem  trabalho artístico e voluntário no Borda foram à Justiça, e conseguiram uma liminar que impedia a demolição de pavilhões. Tranquilos, realizavam seus trabalhos e não esperavam o que veio na sexta-feira. Funcionários de uma empresa de demolição chegaram e começaram a pôr abaixo as paredes de um dos pavilhões. Houve tumulto, resistência, agressões dos dois lados. Macri, então, enviou a Polícia Metropolitana, que passou a atirar balas de efeito moral e avançou sobre médicos, pacientes e jornalistas. O saldo foi um total de 40 feridos, quebradeira e, talvez o mais importante, o fim da paz e tranquilidade na qual deveria operar um hospital psiquiátrico.

A presidente Cristina Kirchner viu aí uma boa oportunidade de expor seu opositor e queimá-lo publicamente. Durante o fim de semana, enviou vários tuíts criticando a ação da polícia e de Macri, mas sem propor ela mesma entrar no problema e resolvê-lo.

O episódio voltou a dividir Buenos Aires, uma cidade em que o anti-kirchnerismo é forte, mas que resiste em dar apoio total a um prefeito que, apesar de ter ganho com uma ampla maioria, é muito criticado por seu estilo de liderança. Enquanto isso, no Borda, médicos e funcionários tentam restabelecer a tranquilidade e estabilizar os pacientes. Todo apoio a eles, agora, é pouco.

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