Quatro dias, quatro discursos

Sylvia Colombo

É sabido que Cristina Kirchner é uma amante dos discursos. Basta uma olhadela no site da Casa Rosada para verificar que a presidente argentina faz, mais ou menos, uns 10 por mês. É através deles que  realiza anúncios importantes, como a nacionalização da YPF, ou apenas dá recados _escancarados ou sutis_ a seus ministros sobre que ações vai tomar e quem anda em boa conta com ela ou não.

Pois na semana que termina hoje, Cristina se superou. Em quatro dias, fez quatro discursos, dois deles utilizando a cadeia nacional de rádio e TV. Na segunda-feira, dia da comemoração da independência, falou em Tucumán. Fez um balanço dos últimos nove anos de kirchnerismo, recordando o crescimento econômico e os avanços do país. Seu falecido marido e antecessor, Néstor Kirchner, foi praticamente equiparado aos próceres da pátria. E o período sob seu comando, como um dos mais exitosos da Argentina em 200 anos de história.

Exagerada, eloquente, mandona (“tirem essa câmera daí, está atrapalhando a visão”), Cristina já implementou um estilo. A militância que a acompanha sempre aparece nos momentos mais exaltados e canta as canções kirchneristas e os gritos de guerra que fazem menção aos desaparecidos, a Néstor e a Perón.

Na terça-feira, a presidente falou numa cerimônia das Forças Armadas, também exaltando o dia pátrio. Na quarta, em cadeia nacional, fez o discurso que mais repercutiu durante a semana, na inauguração de uma instalação agrícola.

O primeiro momento alto foi quando comentou a capa do jornal espanhol “El País” que trazia uma foto do ministro da economia, Luis de Guindos. Cristina o chamou de “el pelado este” (esse careca), e disse que ele a fez lembrar do ex-ministro Domingo Cavallo, responsável pelo “corralito” de 2001. “Fiquei com a torrada entalada na garganta”, disse. A claque organizada riu, apesar do mau gosto do comentário.

Nessa mesma ocasião, Cristina comentou uma matéria do jornal oposicionista “Clarín”, que mostrava como o setor imobiliário estava sentindo os efeitos das medidas de restrição ao dólar. Trata-se da área da economia mais afetada, a queda na compra e venda de imóveis foi de quase 30% desde que entraram em vigor as novas normas.

O jornal ouviu alguns donos de imobiliárias. Um deles dizia que o movimento tinha caído muito e que nem os curiosos entravam mais para fazer perguntas sobre propriedades. A presidente, então, nada menos, disse que tinha mandado investigar o sujeito. Conversou com o titular da AFIP (a Receita Federal argentina) e “descobriu” que ele não estava em dia com os impostos. No dia seguinte, sua atitude foi bastante criticada, pelo abuso de poder e violação da privacidade de um cidadão.

Finalmente, na quinta-feira, Cristina inaugurou a nova versão de Tecnópolis, o imenso parque temático científico que ela tem entre suas principais bandeiras de propaganda.

Cristina sabe que domina bem a arte do discurso, sabe improvisar e desviar o assunto para distribuir pontadas em quem a está incomodando. Porém, o uso abusivo do recurso passa uma ideia de autoritarismo muito grande. Nos dias em que está especialmente irritada, os discursos se transformam em broncas públicas, em que oposicionistas e a mídia opositora são as principais vítimas, isso quando não se trata de um simples cidadão, como foi o caso do dono da imobiliária.

A presidente se gaba de que nunca houve tanta democracia e tanta liberdade de expressão na Argentina. Pois seus discursos passam a impressão oposta.

Comentários

  1. You lost me, buddy. I mean, I imagine I get what youre expressing. I realize what you’re saying, but you just seem to have overlooked that there are some other individuals in the world who view this issue for what it really is and may not agree with you. You may be turning away a decent amount of persons who may have been supporters of your weblog.

  2. Pingback: view more
  3. You lost me, friend. I mean, I assume I get what youre declaring. I understand what you are saying, but you just seem to have forgotten about that you will find some other people in the world who look at this matter for what it really is and may not agree with you. You may perhaps be turning away many of persons who may have been fans of your site.

Comments are closed.