Cine-favela à argentina

Sylvia Colombo

Até outro dia, o que distinguia o cinema argentino do brasileiro, em linhas gerais, era o fato de o primeiro dedicar-se mais a dramas íntimos, familiares, geralmente ligados à classe média, que neste país tem um peso enorme. Enquanto isso, o segundo estava mais relacionado ou à temática sertaneja, seguindo a tradição de Glauber Rocha, ou à dinâmica da vida nos grandes centros, e aí retratando favelas e bairros pobres, como em “Cidade de Deus” (2002), “Tropa de Elite” (2007) e “Linha de Passe” (2008).

Com “Elefante Blanco”, sétimo longa de Pablo Trapero, que estreou nesta semana em Buenos Aires e no Festival de Cannes, o cinema argentino faz uma incursão a um universo mais conhecido por cineastas brasileiros, as favelas, ou “villas” como se diz por aqui.

A experiência é muito bem sucedida. Trapero, também diretor de “Mundo Grua” (1999), “Leonera” (2008) e “Carancho” (2010), retrata a luta de dois padres, ou “curas villeros”, que tentam melhorar a vida dos habitantes de Villa Virgen, uma imensa favela de Buenos Aires com mais de 30 mil habitantes.

Cozinhas de produção de cocaína, perseguições, abandono, violência e pobreza são mostrados de modo cru e impactante. O “elefante branco” do título é um velho hospital em construção abandonado por diversos governos que os religiosos usam como base para sua atuação no local. A cena em que o padre francês resgata o corpo de um adolescente morto de mãos inimigas é a mais intensa da produção.

Curioso ver o filme numa sala de Buenos Aires. Um público menos acostumado a cenas de sangue e tiros reage a cada passagem forte, virando a cabeça ou dizendo: “ai”. Para platéias que passaram pelos filmes de José Padilha, “Elefante Blanco” certamente parecerá bem mais leve, embora não menos dramático.

O filme inspira-se na trajetória do Padre Carlos Mugica, ligado a um movimento de padres do Terceiro Mundo, morto por militantes de um grupo de direita, em 1974. O personagem do onipresente Ricardo Darín, o padre Julián, evoca e homenageia o ídolo popular. Não há, porém, menções diretas ao ambiente político da época de sua morte, os conturbados anos 70 pré-ditadura, nem ao dos dias de hoje.

Já bastante popular no Brasil, o cinema argentino agora apresenta-se com um filme que certamente terá muito apelo em nosso país. Em vários momentos, “Elefante Blanco” poderia se passar em qualquer grande favela do Rio de Janeiro ou de São Paulo. Sinal de que há muito o que refletir em conjunto sobre os dramas sociais dos grandes centros do Mercosul.

 

 

 

 

 

Comentários

  1. Youre so cool! I dont suppose Ive read something like this prior to. So nice to discover somebody with some original thoughts on this topic. realy thank you for beginning this up. this web-site is some thing which is required on the web, somebody with a little originality. valuable job for bringing some thing new to the web!
    wholesale jordans

  2. Pingback: alkaline water
  3. Pingback: classifieds
  4. You should take component in a contest for among the greatest blogs on the internet. I will recommend this web-site!
    [url=http://shoesjordanimy.blogger.hu/2013/11/07/vital-spring-summer-time-2011-trend-seems-to-be-for-ladies]cheap jordans[/url]

  5. Pingback: iyi mi böyle
  6. Pingback: seo copywriting
  7. Pingback: iyi mi böyle
  8. Pingback: disclaimer
  9. Thank you a lot for sharing this with all people you actually recognise what you are speaking approximately! Bookmarked. Please additionally seek advice from my website =). We may have a link trade contract among us!

  10. Pingback: iyi mi böyle
  11. Pingback: disclaimer
  12. Pingback: iyi mi böyle
  13. I have been surfing online more than three hours today, yet I never found any interesting article like yours. It’s pretty worth enough for me. Personally, if all webmasters and bloggers made good content as you did, the web will be a lot more useful than ever before.

  14. Pingback: iyi mi böyle
  15. Pingback: package
  16. Pingback: elles
  17. Pingback: collision

Comments are closed.